Pobreza crescente, falta de água potável, derretimento de geleiras e o desaparecimento de uma série de espécies até meados deste século são parte da descrição de uma paisagem negativa apresentada por um pré-relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da ONU.
O IPCC abriu nesta segunda-feira (02) em Bruxelas uma semana de trabalho para avaliar as conseqüências do aquecimento global nas próximas décadas e deve divulgar um novo relatório na sexta-feira (06).
Participam da conferência 285 representantes de 124 países, além de mais de 50 dos cientistas que escreveram o relatório e dúzias de observadores de organizações não-governamentais.
Esta fase de análises se concentra nos efeitos da mudança climática sobre os recursos hídricos, as espécies vivas, a agricultura, a saúde, o habitat e a economia, assim como as medidas a adotar para minimizar os riscos de ondas de calor, secas, inundações e fenômenos meteorológicos extremos.
Martin Hiller, especialista em mudança climática do WWF, disse que a conferência é “crucial” para influenciar líderes políticos e políticas de governo.
“Queremos ver o que precisa ser feito para proteger comunidades vulneráveis”, afirmou.
Segundo o relatório, dentro de 25 anos, a situação de países pobres deve se agravar, com a quebra de safras e a escassez de água.
Mares mais quentes causarão o desaparecimento de recifes de corais e peixes que vivem neles. Milhões de pessoas em cidades costeiras e em bacias de rios sofrerão com enchentes.
Estados insulares como Tuvalu, no Pacífico, e Maldivas, no Índico, temem sumir sob as ondas com a elevação do nível do mar.
América Latina – Os continentes mais afetados serão África e Ásia, mas nos países latino-americanos calcula-se que entre 100 e 400 milhões de pessoas podem ter problemas de acesso à água potável no ano 2080. Nas piores hipóteses, dezenas de milhões de pessoas podem sofrer de fome.
O aquecimento já está derretendo as geleiras dos Andes e ameaça a floresta amazônica, cujo perímetro pode se transformar aos poucos em uma savana.
O aumento do nível do mar provocará graves problemas nas regiões pantanosas e com deltas, especialmente no Brasil, Equador e Colômbia.
Nas últimas duas décadas, algumas regiões do Alasca e da Sibéria registraram as maiores taxas de aquecimento do planeta, o que compromete o sistema de vida das populações locais.
Vantagens, só no começo – Nações mais próximas dos pólos – e mais ricas – devem ser brevemente beneficiadas.
Rússia e Canadá, por exemplo, poderão ter safras melhores e invernos menos gelados nas próximas décadas.
Países da Escandinávia poderiam ter “maçãs e cerejas mais doces”, disse Helen Bjoernoy, ministra do Meio Ambiente da Noruega. Porém, cardumes de bacalhau e outros peixes migrariam para o norte, afetando a indústria pesqueira, alertou.
“Claramente não haverá vencedores”, disse Rajendra Pachauri, chefe do IPCC.
O relatório do IPCC desta semana é o segundo de uma série de quatro. O primeiro, anunciado em fevereiro, atualizou a ciência da mudança climática, concluindo com quase toda a certeza que o comportamento humano provoca o aquecimento global.
Mas os cientistas dizem que nem todas essas conseqüências têm de acontecer. Um terceiro relatório que será divulgado em maio irá delinear possíveis caminhos para diminuir os efeitos da mudança climática. (Folha Online)