Ao falar em uma conferência que se encerrou na sexta-feira (11), em Buenos Aires, Gore alertou, entretanto, que há perigos na política de incentivos aos combustíveis produzidos a partir de matéria orgânica – como o etanol, que é originado da cana-de-açúcar.
Ele citou “o perigo de uma diminuição desnecessária” dos bosques do planeta, e a “redução da oferta de alimentos”. O ex-vice-presidente americano participou do documentário Uma Verdade Inconveniente, que venceu neste ano um prêmio Oscar ao tratar do tema do aquecimento global.
Segundo ele, a questão é “a crise mais perigosa que já enfrentamos como civilização”.
“O aquecimento global não é uma questão política. É uma questão moral, uma questão ética, uma questão de sobrevivência”, declarou.
Protestos – Entretanto, críticos da iniciativa de aumentar a produção de biocombustíveis afirmam que a medida pode fazer com que produtores destinem a este fim terras que hoje são utilizadas para o plantio de alimentos.
Um dos efeitos poderia ser, por exemplo, aumentar o preço dos gêneros agrícolas, o que acabaria sendo um golpe no bolso de consumidores pobres dos países onde os alimentos são produzidos – justamente os menos industrializados.
O correspondente da BBC em Buenos Aires, Daniel Schweimler, disse que “esta é uma preocupação crescente (na América Latina), uma região onde muitos vivem abaixo da linha da pobreza, e têm sido afetados por grandes cheias causadas, em parte, pelo desflorestamento”.
Enquanto Gore expunha seus pontos de vista na conferência, manifestantes gritavam palavras de ordem contra multinacionais, do lado de fora do hotel que abrigava o evento.
Em bicicletas e com rostos cobertos por máscaras sanitárias, eles disseram que o aumento da produção de biocombustíveis transformará em deserto grande parte da terra arável hoje disponível.
Diversas organizações escreveram a Al Gore reafirmando que a opção pelos biocombustíveis pode acelerar o desflorestamento e fazer disparar os preços dos alimentos, disse o correspondente da BBC.
A conferência se realiza no momento em que o governo argentino oferece redução de impostos aos produtores que colaborem com a meta de que, em apenas três anos, os biocombustíveis respondam por 5% do consumo do país.
O tema deve continuar tomando a atenção de países latino-americanos que se reunirão em uma conferência em Miami, em fevereiro de 2008. (BBC Brasil/ Estadão Online)