A conclusão, que contraria trabalhos prévios sobre a evolução da inteligência entre primatas, sai de um estudo liderado por Carel Van Schaik, da Universidade de Zurique (Suíça).
Em artigo publicado na sexta-feira (18), Van Schaik – primatólogo conhecido por mostrar que orangotangos possuem cultura – faz uma revisão de 84 trabalhos publicados sobre desempenho cognitivo de diversas espécies de primatas.
Ao terminar o levantamento, o cientista e sua equipe concluíram que os macacos maiores têm uma tendência natural a serem mais inteligentes que os menores.
Essa relação contraria a teoria mais aceita agora, segundo a qual, corpos maiores consomem mais atividade do sistema nervoso para controlar movimentos e sentidos, deixando menos espaço livre para atividades cognitivas.
Segundo o novo estudo, mesmo tendo de gastar mais do seu cérebro com simples “tráfego neural”, macacos grandes também têm mais inteligência.
Ainda não está claro por que isso ocorre entre diferentes primatas, já que elefantes e baleias possuem cérebros maiores que os dos humanos, apesar de não terem mais habilidades cognitivas.
Mas os autores já lançam idéias no estudo, publicado na revista “Brain, Behaviour and Evolution” (www.karger.com/journals/bbe).
“Animais maiores podem ser melhores em controlar aspectos de seus ambientes e por isso têm mais a lucrar com o fato de serem mais inteligentes”, diz Van Schaik em comunicado à imprensa.
“Mas talvez o mais importante seja que animais maiores tendem a viver mais e, portanto, podem se beneficiar por mais tempo de serem flexíveis e adaptáveis. Talvez até precisem disso, porque há mais probabilidade de o ambiente mudar durante suas vidas.”
A lógica do “tráfego neural”, porém, ainda deve ser parcialmente necessária para explicar o fenômeno. “Se não fosse necessária estaríamos cercados por alguns enigmas, como o fato de que não há diferenças consistentes de QI entre os sexos, apesar de homens terem cérebros maiores”, diz Robert Deaner, da Universidade Estadual Grand Valley, de Michigan (EUA), co-autor do estudo.
“Acreditamos que a maior parte da relação entre os tamanhos do cérebro e do corpo se deve a animais maiores serem mais espertos”, afirma. “Mas certamente é possível –até provável– que alguma parte dessa relação se deva à necessidade de animais maiores manterem tráfego neural maior.”
Cérebro “burocrata” – No trabalho, os cientistas também atacam outro método comumente usado para tentar predizer inteligência entre primatas: o tamanho do neocórtex, estrutura localizada na superfície do cérebro associada a raciocínio lógico e habilidades cognitivas mais sofisticadas.
“Não há indicação de que as medidas baseadas no neocórtex sejam melhores do que aquelas baseadas no cérebro inteiro”, escrevem os pesquisadores.
Segundo os cientistas, seu estudo contraria a noção de que o funcionamento do cérebro possa ser repartido entre estruturas “burocráticas”, que controlam atividades ordinárias do corpo, e “inteligentes”, que controlam a cognição. (Folha Online)