Ainda em Berlim, Lula partiu para o ataque em uma conferência de imprensa, após reuniões com líderes de outros países emergentes. Ele criticou o acordo fechado entre as nações ricas em Heiligendamm e garantiu que o Brasil não aceitará a pressão do G-8 para que os emergentes estabeleçam metas de redução de emissão de gás carbônico (CO²), posição similar à da China.
Para Lula, os países ricos “precisam assumir a responsabilidade de ajudar a despoluir o planeta que eles poluíram”.
As propostas do presidente americano, George W. Bush, segundo Lula, são “voluntaristas” e “inaceitáveis”. Lula também alertou que o prazo de 2050 marcado para a redução de emissão de CO² significa que “ninguém fará nada até 2049”.
“Cinqüenta anos é muito tempo e vai permitir que os que poluem continuem poluindo e não façam nada”, atacou. “Vai passar tanta água debaixo da ponte e tantas revoluções tecnológicas que acho que a decisão estará superada”, afirmou.
Outra crítica de Lula é contra a proposta de Bush de insistir em que o tema das emissões seja tratado fora do Protocolo de Kyoto. “Não é um avanço tentar abolir o multilateralismo e fazer um clube de amigos que se reúnem de vez em quando e cada um cumpre se quiser ou não (os compromissos). Isso não dá para aceitar”.
Críticas – Assessores do secretário-geral daONU – Organização das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, revelaram ao Estado que Lula, em seu encontro com o coreano nesta quinta-feira (07), deixou claro que apoiará o envolvimento da ONU no tema. “Nossa tese é que temos de cumprir Kyoto e fazer valer cada palavra assinada”. O presidente ainda ironizou Bush, alegando que o americano talvez tenha se dado conta da importância dos temas climáticos depois de assistir ao documentário de Al Gore, Uma Verdade Inconveniente. O filme trata dos perigos das mudanças climáticas e critica a política de Bush. Gore perdeu as eleições para o atual presidente americano em uma disputa polêmica.
Lula fez questão de atacar qualquer plano de estabelecer responsabilidades para os países emergentes na redução de emissões de CO², uma tese tanto dos europeus como dos americanos. A posição é a mesma adotada pelo governo da China, acusada de já ser a maior poluidora do mundo. Segundo estudos da Comissão Européia, se os países emergentes não se comprometerem a reduzir emissões, não há como evitar o aquecimento global.
“Todos sabemos que os países ricos são responsáveis por 60% das emissões de gás e, portanto, precisam assumir responsabilidades. Os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como os ricos cresceram e ter a mesma qualidade de vida que eles conquistaram”, defendeu.
“Não aceitamos a idéia de que os emergentes é que têm de fazer sacrifícios. Inclusive porque a pobreza já é um sacrifício.”
Lula ainda acredita que a solução passa pelos biocombustíveis e, portanto, levará o tema ao G8. (Jamil Chade e Denise Chrispim Marin/ Estadão Online)