Redução da neve no Kilimanjaro não é sinal de aquecimento global

As neves do Kilimanjaro, na Tanzânia, estão diminuindo há mais de um século, mas é provável que o aquecimento global não seja o culpado, afirmaram pesquisadores.

Embora a redução dos glaciares e do gelo no topo das montanhas de latitudes médias – onde vive a maior parte da população – esteja definitivamente ligada às mudanças no clima, não se pode dizer a mesma coisa sobre o Kilimanjaro, escreveram cientistas na edição de julho-agosto da revista American Scientist.

O topo gelado do Kilimanjaro, que deu o título para um conto famoso de Ernest Hemingway, está perdendo o gelo há mais de 100 anos, segundo Philip Mote, da Universidade de Washington, e Georg Kaser, da Universidade de Innsbruck, na Áustria.

A maior parte da redução aconteceu antes de 1953, quase duas décadas antes das primeiras evidências conclusivas sobre o aquecimento atmosférico.

“É certamente possível que a calota tenha ido e vindo muitas vezes, ao longo de centenas de milhares de anos”, disse o climatologista Mote numa declaração.

“Mas, para os glaciares temperados, há amplas evidências de que eles estão diminuindo, em parte por causa do aquecimento decorrente dos gases-estufa.”

De acordo com o trabalho, o desaparecimento do gelo do Kilimanjaro é determinado pela radiação solar, já que o ar em torno do topo raramente está acima do ponto de congelamento. Já os glaciares de latitudes médias têm sua redução determinada pelo aquecimento do ar que os cerca.

O Kilimanjaro, um vulcão extinto que fica perto da fronteira da Tanzânia com o Quênia, é o pico mais alto da África, com 5.963 metros de altitude, e atrai números enormes de turistas e alpinistas por causa de sua vista espetacular.

Os pesquisadores atribuíram a redução no gelo a uma interação complexa entre vários fatores, como o formato vertical da beirada do gelo, que impede sua expansão. A redução na precipitação de neve também influencia.

Boa parte do gelo do Kilimanjaro está desaparecendo por sublimação – quando o gelo, a temperaturas muito baixas, transforma-se direto em vapor, sem passar pela fase líquida -, disseram os cientistas. (Globo Online)