Os primeiros dados do Projeto Ecosan, ainda inéditos, se por um lado surpreendem, por outro mostram qual é o ponto nevrálgico das águas santistas.
“A poluição na região estuarina é de uma ordem de grandeza muito maior do que a existente nas águas da baía de Santos e da plataforma continental próxima. O caso ali é de risco à saúde pública”, afirma a oceanógrafa Márcia Bícego.
A cientista participa da força-tarefa do Instituto Oceanográfico que desde 2005 investiga qual é a “influência do complexo estuarino da Baixada Santista sobre o ecossistema da plataforma adjacente”, o nome pomposo do Projeto Ecosan, que custou R$ 600 mil.
“Nós analisamos apenas os poluentes que estão nos sedimentos e não na coluna d’água”, avisa Bícego. Como na região o fundo é recoberto quase sempre por areia, fica mais difícil para os contaminantes se grudarem aos grãos. Em regiões com grande quantidade de argila, por exemplo, a sedimentação da sujeira lançada ao mar até o fundo ocorre em quantidades bem maiores.
“A notícia é positiva de um lado (pela falta de poluição na baía), mas ao mesmo tempo mostra que o foco, em termos ambientais, precisa ser fechado mesmo nos estuários”, diz.
O grupo que ela dirigiu estudou os chamados compostos orgânicos. Entram nessa lista desde os organoclorados (pesticidas) até os derivados de petróleo e resíduos de esgoto.
A baixa sedimentação dos poluentes nas águas da baía de Santos, segundo Bícego, deve ser analisada ao lado de um outro fenômeno também conhecido dos cientistas. “As correntes marítimas são muito fortes naquela área. Não é possível dizer que não existe nenhuma exportação da poluição. Mas aquilo que sai do estuário acabava sendo levado ainda mais para alto-mar”, argumenta.
A análise das 21 estações de coleta que formaram o Ecosan indica ainda que o emissário de Santos está cumprindo seu papel de enviar para longe o esgoto da Baixada Santista. “Nos pontos estudados próximos à saída do emissário a poluição aumenta apenas um pouco, nada significativo”, diz a cientista.
Se o bom funcionamento do emissário ajuda a explicar uma certa melhora nas condições das praias de Santos e São Vicente nos últimos anos, o esgoto não deixa de ser o grande vilão das praias.
Nos períodos, até certo ponto longos, que as praias da região ficam sob a classificação de imprópria, é a chuva que carrega os dejetos para o mar. Nenhuma das cidades da região tem uma cobertura de esgoto de 100%. Em Cubatão, segundo dados da Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a rede só cobre 41% do que deveria cobrir.
Nesse caso, a exportação de poluentes é bastante grande, mas a fonte primordial desses dejetos não é realmente o estuário. Os esgotos das casas sem redes de coleta ou os que fluem por ligações clandestinas chegam ao sistema de águas pluviais e, então, vão direto – e sem nenhum tipo de tratamento – para as praias. (Folha Online)