As 312 famílias que moravam na área onde agora funciona o Centro de Lançamento de Alcântara foram transferidas, a partir de 1986, para seis agrovilas, a cerca de 20 quilômetros de distância. Hoje são 700. O crescimento da população para mais que o dobro em 20 anos aponta para um futuro conflito das famílias pelas terras, na avaliação do coordenador-geral do Mabe – Movimento dos Atingidos pela Base Espacial Inaldo Faustino Silva.
“As famílias cresceram e as terras ficaram poucas, o que pode gerar conflito nas agrovilas”, afirma. Outra alternativa, segundo ele, pode ser a migração para a cidade, mesmo que as condições de vida não sejam melhores. “A gente prevê que, futuramente, a falta de alternativas e de políticas públicas vai fazer com que as pessoas saiam para as periferias de São Luis”.
Nas casas de alvenaria, construídas pelo governo, ou nas de taipa, os moradores buscam sobrevivência na agricultura. Como é o caso de João Barroso, que produz arroz em área cedida pela Aeronáutica. Seu Barroso diz ter aprendido a viver na casa de alvenaria cedida pelo governo, que fica a aproximadamente 20 quilômetros da área do seu antigo quilombo. “Logo no início eu não estava gostando. Mas hoje, depois de 20 anos, a gente acha que não tem jeito, né?”. Quem não tem casa de alvenaria, mora em casa de taipa coberta de palha e com chão batido. A agrovila não tem rede de esgoto e água tratada. “Aqui é fossa seca ou a céu aberto”, conta o coordenador do Mabe.
Em agosto de 2004, o governo federal criou um grupo interministerial para criar políticas para as comunidades quilombolas de Alcântara. “Esse grupo é responsável por atividades voltadas ao desenvolvimento local e sustentável e à regularização fundiária”, explicou o diretor do Centro de Lançamento de Alcântara, Rogério Veríssimo.
Metade do orçamento destinado a políticas públicas nas comunidades quilombolas não foi efetivamente utilizada nos últimos três anos, segundo levantamento do Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos. A ministra da Seppir – Secretaria Especial de Política de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, reconhece o problema e afirma que ele é causado por combinação de vários fatores. (Agência Brasil)