Orquídea conviveu com dinossauros, sugere novo fóssil

O cenário botânico visto pelos dinossauros no final do Período Cretáceo (de 76 milhões de anos a 84 milhões de anos atrás) era provavelmente mais florido do que os cientistas imaginavam até agora.

A descoberta de um fóssil de abelha com uma “mochila” de pólen em seu dorso, encontrado na República Dominicana, é a responsável pela mudança.

“Além da importância em si, por ser o primeiro fóssil inequívoco de uma orquídea (representada por meio do pólen), a descoberta ajudou na calibragem da história evolutiva desse grupo vegetal”, disse à Folha o pesquisador Rodrigo Singer, da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Agora, os cientistas podem afirmar que o ancestral das orquídeas atuais já vivia na Terra no final do Cretáceo, um pouco antes de os grandes répteis sumirem, há 65 milhões de anos.

O botânico argentino, radicado em Porto Alegre desde 1995, é um dos autores do artigo que descreve o novo fóssil, publicado na quinta-feira (30) pela revista científica britânica “Nature” (www.nature.com).

“Não dá para falar que os dinossauros conviveram com muitas espécies de orquídea, mas sim que elas já existiam naquele tempo”, afirma Singer.

Até hoje, por causa da falta de fósseis – alguns foram encontrados, mas não se tinha certeza de que se tratava de orquídeas -, a idéia vigente era outra. Esse grupo de plantas é um dos mais diversos do planeta, com quase 25 mil espécies. Mas os botânicos achavam que sua origem fosse mais recente.

“E, neste caso, ficaram registrados tanto a planta quanto o seu polinizador, a abelha”, explica Singer, o que também tem importância científica.

Ambas espécies já estão extintas, mas elas têm parentes relativamente próximos ainda vivos. “O grupo das abelhas sem ferrão, o mesmo que existe no Brasil, é um exemplo.”

O fóssil dominicano, descoberto em 2000, dentro de um pedaço de âmbar, tem entre 15 milhões e 20 milhões de anos. Sua descoberta permitiu aos pesquisadores rever todas as datas da árvore genealógica das orquídeas e concluir pela origem antiga do grupo, que teria explodido em diversidade após o final do Cretáceo.

Morta no ato – A cena que antecedeu o momento da fossilização, que acabou ficando para a posteridade, pode até ser imaginada.

No momento da morte, a abelha estava mergulhada na planta, se lambuzando na flor. No meio do banquete, foi aprisionada por um derrame de resina da árvore sobre a qual a planta vivia. Sorte da ciência. (Folha Online)