Analistas britânicos afirmam que é hora de esquecer o Protocolo de Kyoto, que “fracassou como instrumento para reduzir as emissões” de CO2, e pensar em fortes investimentos públicos no desenvolvimento de tecnologias limpas.
Em um artigo na revista Nature, Gwyn Prins, da London School of Economics, e Steve Rayner, do Instituto James Martin, de Oxford, defendem, entre outras coisas, aumentar o orçamento público de países ricos destinado a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias que permitam maiores economias energéticas.
“Parece razoável esperar que as principais economias do mundo dediquem tanto dinheiro a esse desafio quanto gastam atualmente em pesquisa militar: no caso dos Estados Unidos, cerca de US$ 80 bilhões ao ano”, afirmam os dois cientistas.
Nesse sentido, eles afirmam que, enquanto a AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica prevê a duplicação da demanda mundial de energia em relação à atual dentro de 25 anos, desde 1980 houve uma redução de 40% dos orçamentos públicos destinados a pesquisa e desenvolvimento nesse campo, no mundo todo.
Segundo Prins e Rayner, o setor de pesquisa e desenvolvimento é uma causa que convém a todo o espectro político: em 1992, o então candidato à vice-presidência dos Estados Unidos Al Gore propôs uma “iniciativa ambiental estratégica como parte de sua visão de um Plano Marshall global”.
O conservador American Entreprise Institute, de Washington, também apóia a pesquisa básica sobre tecnologias limpas.
Em seu comentário, os especialistas analisam o que classificaram de fracasso de Kyoto e dizem que o tratado foi construído exatamente como três outros anteriores, relativos à destruição da camada de ozônio na estratosfera, à chuva ácida devido às emissões de óxidos de enxofre à redução dos arsenais nucleares.
Os artífices do Protocolo de Kyoto pensaram que “a melhor maneira de atacar a mudança climática seria controlar as emissões globais, ou seja, tratando as toneladas de dióxido de carbono como se fossem armas nucleares que deveriam ser reduzidas estabelecendo metas e calendários mutuamente verificáveis”.
Esse enfoque funcionou nos outros três casos porque, embora fossem problemas difíceis, “eram relativamente simples em comparação com a mudança climática”, dizem Prins e Rayner, segundo os quais o tratado depende da “criação de um mercado global de CO2 pelo qual os países podem comprar e vender as emissões atribuídas”.
“Sem um aumento significativo dos programas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas financiados com fundos públicos e mudanças nas políticas de inovação (tecnológica), haverá muito tempo antes de a inovação responder” a esse estímulo.
Se a mudança climática é uma ameaça grave para o futuro do planeta, é hora de “interromper o ciclo”, dizem os dois analistas.
Os especialistas denunciam ainda que o Protocolo de Kioto tem várias lacunas que permitiram que muitos “se beneficiassem com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo praticamente sem atingir o nível de emissões” exigido e criticam a idéia central do tratado, de que a redução das emissões é um problema que exige o consenso entre mais de 170 países.
“Alinhar todos os países do mundo pode soar idealista – contra uma ameaça comum é preciso dar uma resposta universal -, mas quanto mais partes houver em uma negociação mais baixo é o denominador comum para se chegar a um acordo, o que ocorreu em Kyoto”, dizem.
Deve-se reconhecer, segundo eles, que menos de 20 países são responsáveis por aproximadamente 80% das emissões d carbono do mundo, e, enquanto a política de redução de emissões está em suas primeiras fases, “os outros 150 países são apenas um obstáculo”. (Estadão Online)