“Gosto da analogia com o rastro de um navio do oceano”, diz o principal autor do artigo, Miodrag Sremcevic, atualmente na Universidade de Colorado em Boulder (EUA). “Esses satélites minúsculos são pequenos demais para provocar um caos nos anéis, mas são capazes de atrair pequenas partículas em uma forma semelhante à das hélices de um avião. Enquanto um barco teria duas ondas atrás de si, a lua tem uma atrás e uma à frente, por conta das leis astronômicas”.
Essas pequenas luas provavelmente são o resultado da destruição de uma lua com vários quilômetros de diâmetro pela colisão de um cometa ou asteróide, milhões de anos atrás. O artigo diz que as pequenas luas recém-descobertas estão dispostas em um cinturão dentro do anel, numa faixa que vai de 128.000 km a 131.700 km de Saturno, ocupando pouco mais de 1% do diâmetro total dos anéis.
Como a distribuição das pequenas luas não é uniforme por todo o anel, mas concentra-se nessa faixa, a descoberta, dizem os pesquisadores, sugere que os anéis de Saturno não nasceram juntamente com o planeta, e nem são resultado da desintegração súbita de uma lua primitiva, mas sim do “despedaçamento de luas maiores em uma cascata de colisões” que pode ter se estendido por centenas de milhões ou, mesmo, bilhões de anos.
“As luas podem ter colidido ente si ou, o que é muito mais provável, podem ter sido moídas por uma chuva constante de meteoros”, explica Sremcevic. Especificamente, as pequenas luas do anel A seriam o resultado do desgaste contínuo dos fragmentos de uma lua original de 30 km de diâmetro, ao longo de 100 milhões de anos. Mais 100 milhões, diz Sremcevic, e chuvas de meteoros poderão ter eliminado o cinturão, transformando o anel A num disco homogêneo.
Estrela da Morte – O trabalho de Sremcevic vem se somar a um artigo publicado por outra equipe de cientistas na revista Science, no início de agosto, que atribui a origem de um outro anel de Saturno – chamado G – à presença de um arco denso de material brilhante, girando dentro do anel.
“O arco aparentemente contém uma coleção de objetos com centímetros e até metros de diâmetro, e o brilho vem de poeira que salta desses objetos”, explicou, na época, o principal autor do trabalho, o astrônomo Matthew Hedman, da Universidade Cornell. A poeira, expelida para fora do trecho brilhante pelas colisões constantes, daria origem ao restante do anel G.
“Há processos de fragmentação e erosão nos anéis, e observamos suas conseqüências”, diz o autor do trabalho na Nature, sobre a convergência entre seu estudo e o de Hedman. “Embora nenhuma conexão explícita (com a fragmentação de luas primitivas) tenha sido feita diretamente no artigo da Science, isso soa plausível”.
“Qualquer que seja a origem dos anéis, pode-se estimar sua massa total a partir dos anéis atuais”, afirma Sremcevic. “Estimativas mais conservadoras falavam em uma massa igual à de Mimas”.
Com um milésimo da massa da Lua da Terra, Mimas é o satélite de Saturno apelidado de” Estrela da Morte”, por se parecer com a nave destruidora de planetas do filme “Guerra nas Estrelas”. “Mas algumas propostas novas falam em até três massas de Mimas. Na verdade, isto vai ser parte de meu próximo estudo: ver o que a Cassini nos diz sobre a massa total”, diz Sremcevic. (Estadão Online)