Segundo observadores que estão acompanhando os debates iniciados na segunda-feira (12), em Valência, na Espanha, não existe disputa sobre as linhas gerais do relatório e sobre um dos pontos que tem sido muito polêmico nos últimos anos: o peso da ação humana no aquecimento global.
Ao longo do ano, o painel da ONU publicou três relatórios – que agora estão sendo resumidos em um relatório final – nos quais atribui a maior parte da mudança climática dos últimos 50 anos “muito provavelmente” (ou seja, com mais de 90% de certeza) à emissão desses gases de efeito estufa causados pela ação humana.
Apesar desse consenso, os diplomatas e representantes dos governos estão debatendo linha por linha o documento de pouco mais de 20 páginas, chamado de síntese executiva, que será o grande resumo do ano sobre o assunto e deverá ser usado como base para as futuras discussões políticas em torno da questão.
Um exemplo das disputas na Espanha, dizem observadores, é a diferente abordagem entre os representantes americanos e chineses.
De acordo com essas fontes, os americanos estão tentando dar mais ênfase ao volume de emissões de gás carbônico no final do século, especialmente a partir de 2000. Por trás dessa opção estaria a intenção de evidenciar a contribuição de países em desenvolvimento para o fenômeno e colocar todos os países em patamares semelhantes de responsabilidade.
Os representantes da China, por sua vez, estariam trabalhando pelo foco em um período mais longo de tempo, desde meados do século 20, o que colocaria mais peso na contribuição histórica dos países desenvolvidos.
Na percepção de especialistas, o documento final do IPCC neste ano ganhou ainda maior importância porque ele será apresentado menos de um mês antes de uma reunião global em Bali para debater o futuro do combate ao aquecimento.
A síntese executiva do IPCC será um documento importante nas discussões políticas que acontecerão na pequena ilha da Indonésia. “Há muita pressão política (agora, no IPCC) por conta da reunião de Bali, que se realiza dentro de apenas três semanas para discutir um acordo que substituirá o Protocolo de Kyoto. Por isso, os governos têm de tirar daqui de Valência o melhor que puderem”, disse um observador.
Organizações que acompanham as negociações dizem, entretanto, que independentemente das mudanças de última hora, a mensagem dada pelo IPCC já é “forte e clara” e não deverá mudar em substância.
O ponto mais importante possivelmente é a ênfase dada à ação humana no aquecimento global. Outros pontos importantes são a ênfase no perigo do aumento do nível dos oceanos e – o painel afirmou que o nível do mar pode subir entre 18 cm e 58 cm ate 2100 – e a afirmação que a concentração de CO2 – o principal gás que causa o efeito estufa e relacionado à ação humana – na atmosfera é a maior dos últimos 650 mil anos.
Pontos como esses estarão refletidos no relatório final e servirão como de base dos debates políticos. (Estadão Online)