O curta levou um ano para ficar pronto e foi produzido por participantes de uma oficina da organização não-governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias para o projeto Documenta Kuikuro, em que a tecnologia é utilizada para manter a cultura. A festa do pequi foi escolhida porque ocorreu simultaneamente ao curso, que ocorreu em setembro.
Segundo um dos diretores do filme, Maricá Kuikuro, a idéia do projeto de documentação é guardar as tradições para as próximas gerações, mas sob o olhar dos próprios índios. “A preocupação do cacique era perder tudo isso”, disse. O projeto Documenta Kuikuro é coordenado pelos índios e pelos antropólogos Carlos Fausto e Bruna Franchetto do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Uma das lideranças Kuikuro, o velho Jakalo, disse a iniciativa é importante para os indígenas não correrem o risco de “esquecer a cultura”, como outros povos que não lembram mais da língua e das festas nativas. “Outro dia, perguntei a um índio se ele falava a língua dele? E ele respondeu que não, tinha esquecido”, recorda. Aí eu fiquei triste”.
A documentarista Mari Corrêa, dirigente da ONG Vídeo nas Aldeias, avalia que o projeto tem duas dimensões: a documentação e a dinamização da cultura. “A oficina gera uma dinâmica no momento, não no futuro. Com as filmagens, entrevistas e depoimentos, esse assunto da tradição, da transmissão do saber, vem à tona e todos começam a se interessar”, explicou. O projeto também é realizado com outros 15 povos.
Antes da exibição do vídeo Kuikuro, o presidente do Comitê Intertribal – Memória e Ciência Indígena, Marcos Terena, disse que os filmes produzidos pelos índios os retiram do “papel de zé-mane”, em referência às telenovelas: “Apesar de sermos cerca de 500 mil em uma população de 179 milhões de brasileiros não queremos ser os ‘mudos’ da história”. (Agência Brasil)