O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) desprezou de forma “séria e sistemática” o impacto da mudança climática, segundo um cientista que participou da redação do Protocolo de Kyoto.
Thomas Goreau, ex-assessor da equipe de especialistas que apresentou aos governos a primeira minuta de Kyoto em 1997, disse nesta segunda-feira (10), que o aquecimento global deve ser revertido, não suavizado, e que as ferramentas disponíveis para alcançá-lo não estão sendo empregadas.
Os primeiros países que se verão afetados pelo aumento das temperaturas e a alta do nível do mar, alertou o cientista, serão as nações insulanas. Elas correm risco de ficar submergidas para sempre quando seus recifes de coral desaparecerem em um ano especialmente quente, como aconteceu em 1998 devido ao fenômeno El Niño.
Naquela ocasião, 95% do coral das Maldivas, no Oceano Índico, ficou totalmente destruído, e esse perigo persiste, em sua opinião, em grandes arquipélagos como Indonésia, Filipinas ou a maioria dos pequenos Estados do Caribe e do Pacífico Sul.
“As áreas próximas ao nível do mar e os recifes já não podem suportar o aquecimento global”, advertiu Goreau, que assinalou que os modelos climáticos empregados pelo IPCC são muito simples e não prevêem as conseqüências da mudança climática a longo prazo.
Goreau afirmou que “os dados do passado mostram que estamos subestimando as mudanças e seus efeitos”, e lembrou que a última vez que a temperatura aumentou em mais de um grau centígrado em relação à atual foi há 125.000 anos.
Nessa época, crocodilos e hipopótamos habitavam o que agora é Londres e arquipélagos inteiros foram engolidos por ondas gigantes, muito maiores que as do tsunami de 2004, disse. (Estadão Online)