Para UE, acordo do clima entra na fase mais difícil

Após ser vaiada na plenária final da Conferência de Bali na madrugada de sábado (15), ouvir frases duras, e finalmente aceitar o consenso, Paula Dobriansky, chefe da delegação dos Estados Unidos, deu início, mesmo que simbolicamente, a fase mais dura do processo.

“Nós teremos dois anos com demandas tremendas, que vão começar logo em janeiro”, afirmou Humberto Rosa, chefe da delegação da União Européia, logo após os norte-americanos terem protagonizado uma virada de 180 em sua posição.

O Mapa do Caminho que saiu da Indonésia, acordado por 190 nações, não definiu metas de redução de emissões de gases que contribuem para o efeito-estufa, porém estabeleceu a data que um acordo realmente efetivo terá que ficar pronto: dezembro de 2009, na reunião que será feita na Dinamarca.

Os negociadores deixaram Bali falando em um evento histórico e prometendo ações urgentes de combate ao aquecimento global, fenômeno que poderá trazer mais enchentes, secas, tempestades e ondas de calor para o mundo.

Os holofotes agora já estão virados para Gana, onde no início do ano, provavelmente em março, haverá uma primeira reunião de trabalho dos negociadores do clima dentro do âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas). “Se ocorrer uma mudança maior na política de governo americana, poderemos esperar uma grande aceleração na execução dos acordos feitos em Bali”, disse Rachmat Witoelar, ministro de Ambiente da Indonésia.

Para os ambientalistas que acompanharam as intermináveis reuniões em Bali, a eleição presidencial nos Estados Unidos, no final de 2008, ficou mais importante ainda.

Casa Branca – “Na eleição (dos EUA), a mudança climática ocupará provavelmente um lugar relevante no debate, com a vantagem de que os cidadãos têm um conhecimento maior sobre o tema e mais responsabilidade também sobre o aquecimento (da Terra)”, disse o ambientalista Pablo Cotarelo, da ONG Ecologistas em Ação, da Espanha.

Catástrofes climáticas como o furacão Katrina em 2005, os gigantescos incêndios florestais na Califórnia e as fortes secas no meio-oeste dos Estados Unidos contribuíram para a maior sensibilização dos norte-americanos, segundo vários ambientalistas.

“Estes desastres mostram a dor de ser vítima do aquecimento”, disse o brasileiro Marcelo Furtado, da ONG Greenpeace. “Porém, isso vai atingir mais às populações dos países em desenvolvimento.”

A questão agora também passa a ser de tempo. O novo presidente dos Estados Unidos só assume seu posto no final de janeiro de 2009, o que significa que ele terá menos de um ano para a reunião na Dinamarca.

“Devemos avançar independentemente das ações da atual administração do presidente Bush”, afirma Cotarelo.

Muro de Berlim – Para o secretário-geral da Convenção do Clima, o holandês Yvo de Boer, Bali derrubou ainda o “Muro de Berlim” – existente no âmbito das discussões de Kyoto – que separava os países ricos dos pobres.

“Não há obrigações só para os ricos. No futuro, todos terão que tomar parte (no corte de emissões)”, disse De Boer. (Folha Online)