O tal cilindro, conhecido pelos cientistas como testemunho de gelo, deve mostrar variações na temperatura e na composição química do ar desde antes da era pré-industrial. Foi nesse período que os humanos começaram a jogar quantidades maciças de dióxido de carbono na atmosfera, esquentando a Terra em 0,76ºC na média. Na península Antártica, esse aquecimento foi de 3ºC.
O grupo de pesquisadores liderado por Jefferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coletou a amostra no platô Detroit, um planalto congelado a 2.000 metros de altitude na região norte da península.
Eles vão estudar a composição química das bolhas de ar aprisionadas no gelo em busca de correlações entre mudanças no clima naquela região e na América do Sul. O maior interesse é no El Niño, o fenômeno que de tempos em tempos causa tempestades na costa do Pacífico e secas no Nordeste e na Amazônia. O estudo é um dos projetos brasileiros para o Ano Polar Internacional.
Segundo Simões, há vários estudos sugerindo que as oscilações no clima na península também podem estar ligadas aos ciclos de El Niño. Só que os registros dos El Niños que aconteceram no passado ainda são escassos. “A grande questão atual é verificar se o registro de El Niño/La Niña aparece na região ao longo do período, e como ele se relaciona com o registro sul-americano. Queremos amarrar os dois”, afirma.
Outra questão a ser resolvida é a do transporte de poluentes vindos das queimadas da Amazônia para a Antártida. Aerossóis de queimadas já foram detectados em testemunhos de gelo dos Andes, e os cientistas querem saber o quão longe esses poluentes podem se espalhar pelo planeta.
Por fim, a análise do gelo também poderá dar pistas sobre o fenômeno mais impressionante ocorrido na região nos últimos tempos: a quebra repentina da plataforma de gelo Larsen-B, ocorrida em 2002 a poucos quilômetros do Detroit. (Folha Online)