O pesquisador Alexandre Colombo analisou a área propícia de ocorrência de 38 espécies arbóreas da mata atlântica, levando em conta condições ideais de temperatura e precipitação. Depois, lançou sobre elas as previsões do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) para o ano 2050.
No cenário mais otimista, com aumento de temperatura menor ou igual a 2°C, quase todas as espécies (37) deverão perder, em média, 25% das áreas hoje propícias para sua sobrevivência. Uma única espécie seria beneficiada, com um pequeno ganho de 8% de área. No cenário mais pessimista, com aumento menor ou igual a 4°C, todas as 38 espécies sofreriam redução média de 50% de sua área potencial de ocorrência – um duro golpe para um bioma que já teve 93% de sua cobertura florestal devastada.
“Todas as espécies, nos dois cenários, sofrem um deslocamento para o sul do País, em direção a áreas mais frias”, afirma Colombo, que defendeu o trabalho como sua tese de mestrado no Instituto de Biologia da Unicamp. “O impacto não será catastrófico, mas será grande. Nossos filhos verão a mata atlântica, mas ela não será a mesma que vemos hoje.”
Fragmentação – O estudo é conservador, pois baseia-se na área potencial total de ocorrência das espécies, e não na área real de ocorrência atual – muito menor, já que a maior parte do bioma não existe mais. As florestas que sobraram estão fragmentadas, separadas por cidades, pastos e plantações. Por causa disso, aponta Colombo, muitas espécies estão ?ilhadas? e não serão capazes de fazer as migrações necessárias naturalmente. O Parque Estadual da Serra do Mar, maior unidade de conservação de mata atlântica do País, no litoral paulista, é um dos que deverão sofrer com a mudança do clima.
A solução seria recompor áreas degradadas e estabelecer corredores florestais para que sementes de espécies pressionadas se dispersem para áreas de clima mais favorável. A pesquisa faz parte de um grande projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), chamado Biota Gradiente Funcional, iniciado em 2005. (Estadão Online)