As más notícias se estendem também ao Brasil, que pode perder 5% de suas lavouras atuais de mandioca, milho, arroz e trigo, mas o maior baque é o que paira sobre os países da região sul do continente africano. O mais importante cultivo da região, o milho, pode cair de produtividade em nada menos que 30%. Na Índia e no Paquistão, outro elemento-chave da dieta, o arroz, teria sua safra reduzida em 10%.
A análise, coordenada por David B. Lobell, do Centro de Segurança Alimentar e Ambiental da Universidade Stanford (Estados Unidos), está na edição desta semana da revista especializada “Science”. É claro que esse tipo de projeção comporta incertezas importantes, as quais foram levadas em conta pelos cientistas. Mesmo assim, com margens de erro incorporadas, são muito poucos os países pobres cuja agricultura tem alguma chance de lucrar com a mudança climática. A China e a América Central poderiam ter safras ligeiramente melhores, mas as demais nações acabam capengando.
As projeções de Lobell e companhia levaram em consideração os países que têm problemas intrínsecos de segurança alimentar – grosso modo, aqueles em que muitos dos produtores rurais dependem de sua lavoura não apenas como fonte de renda, mas também como fonte de alimento para si mesmos e suas famílias. Esses países também abrigam, em conjunto, quase 95% das pessoas com desnutrição do mundo – mais de 800 milhões de seres humanos.
O passo seguinte foi estimar as mudanças na temperatura média e no regime de chuvas de cada região, usando as simulações de computador disponíveis hoje. Finalmente, as mudanças projetadas para as décadas entre 2020 e 2040 foram comparadas com a histórico de cada colheita e cada lugar. Ou seja: sabendo que em anos mais ou menos quentes, ou mais ou menos úmidos, havia uma variação observável na safra, foi possível estimar o que mudanças semelhantes no futuro poderiam significar para as colheitas.
Os números apresentados no infográfico desta matéria são apenas estimativas médias, é bom que se diga. Dependendo da região e dos dados disponíveis, a incerteza pode ser grande. No caso do milho no sul da África, por exemplo, a queda pode variar de 20% a quase 40%. De qualquer maneira, os sinais parecem apontar, em sua maioria, para uma necessidade urgente de bolar medidas de prevenção e mitigação.
Dinheiro, como sempre – Nenhum dos resultados previstos pelos pesquisadores é inevitável. Em alguns casos, dá para evitar o pior simplesmente trocando plantios vulneráveis por outros que, segundo as projeções, terão mais robustez para enfrentar o aquecimento global futuro. No entanto, para realmente ter certeza de que o pior será evitado, investimentos robustos em irrigação, desenvolvimento de novas variedades de plantas e em adubação química serão necessários. E tudo isso custa um dinheiro que os países mais afetados não têm.
É difícil saber como esse estudo, e futuras projeções desse tipo, vão afetar as negociações mundiais sobre mudança climática. Mas eles dão um forte argumento aos países pobres para que o problema seja considerado uma ameaça à sobrevivência de suas populações, causado principalmente pelos grandes poluidores, que também são países industrializados. (Globo Online)