As três equipes encontraram as mesmas diferenças genéticas na mesma área do genoma, o cromossomo 15, que contém receptores que reagem à nicotina. As alterações só aumentam os riscos de câncer em fumantes, mas os cientistas discordam no motivo disso acontecer.
O maior estudo de todos, liderado por Kari Stefansson, da companhia deCODE Genetics, da Islândia, foi publicado na revista especializada “Nature”. Nele, os cientistas afirmam que o aumento no risco de câncer era indireto e ligado ao vício em cigarro. A alteração genética geraria maior dependência e consumo de tabaco, o que, por conseqüência, levaria a uma maior chance de desenvolver o tumor.
Também na “Nature”, Paul Brennan e sua equipe da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer, da França, acreditam, no entanto, que as alterações genéticas aumentam diretamente o risco de câncer, ao serem acionadas pelo fumo – sem interferir no vício. O mesmo acredita o grupo de Christopher Amos, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, que publicou seu trabalho na “Nature Genetics”.
De acordo com os três trabalhos, as pessoas que fumam e têm uma cópia do gene alterado, vinda de um dos pais, apresentam um risco cerca de um terço maior do que o restante da população de ter câncer de pulmão. O risco de quem recebe duas cópias do gene sobe para quase 80% a mais do que o da população em geral.
Ainda assim, os cientistas lembram que, mesmo sem qualquer variação genética, os fumantes têm 14% mais chances de ter câncer de pulmão do que os não-fumantes. A descoberta dos genes não é uma liberação médica para o fumo. Nove de cada dez casos desse tipo de câncer estão ligados ao fumo. “A melhor forma de diminuir o risco de ter um tumor no pulmão é não fumar”, afirmou Amos ao G1.
Nos não-fumantes, a presença das alterações genéticas não aumenta o risco de desenvolvimento do tumor. “Um não-fumante sem as mutações pode desenvolver o câncer, mas o risco é muito mais baixo”, explicou Amos.
Os três estudos também podem ajudar a ciência a desvendar os mistérios do vício no fumo, como, por exemplo, porque algumas pessoas se viciam com facilidade enquanto outras fumam ocasionalmente sem ficarem dependentes. “No futuro, poderemos moldar as estratégias de combate ao vício individualmente, de acordo com o genótipo do paciente”, diz Amos. A descoberta também pode ajudar a explicar por que alguns fumantes morrem cedo, enquantro outros vivem até cem anos.
Para resolver as diferenças nos resultados obtidos, os três grupos concordaram em compartilhar seus dados. Com isso, eles esperam obter uma análise mais detalhada. “Provavelmente não há desacordo nenhum”, afirmou Paul Brennan. “Deve haver alguma associação com o vício, mas eu acredito que ela é bem pequena.”, disse ele. (Globo Online)