Os cientistas modificaram geneticamente os insetos para que um grupo de células cerebrais que controlam o comportamento sexual pudessem ser “ativadas” por um impulso de luz.
A equipe de pesquisadores conseguiu que as moscas fêmeas produzissem um som para acasalamento – comportamento normalmente visto nos machos.
O estudo, publicado na última edição da revista científica Cell, sugere que as conexões nos cérebros dos machos e das fêmeas são semelhantes.
Trabalho duro – Gero Miesenboeck, da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, que coordenou a pesquisa com J. Dylan Clyne, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, disse: “Normalmente os machos têm que trabalhar muito duro para convencer as fêmeas a copularem com eles”.
“Em muitas espécies animais, os machos têm que fazer exibições elaboradas para impressionar as fêmeas – mesmo no caso da pequena mosca de frutas”, disse Misenboeck.
Segundo ele, os machos de moscas de frutas vibram uma de suas asas para produzir uma música quase inaudível. “Se a fêmea gostar da música, ela se rende aos seus avanços”, relata.
Pesquisas anteriores haviam revelado que um grupo de 2.000 células cerebrais eram necessárias para esse comportamento da corte nos insetos; porém tanto as fêmeas quanto os machos das moscas de frutas parecem possuir mais desses neurônios.
Equipamento semelhante – “Parece que os machos e as fêmeas têm um equipamento neural muito semelhante, mas ainda assim eles se comportam de maneira tão diferente – somente os machos cantam, e somente as fêmeas respondem à música permitindo ao macho copular com ela. A grande questão é: por que e qual a diferença?”, questiona Miesenboeck.
Para investigar, os pesquisadores colocaram algumas moscas em um “mini-estúdio de som”. Os insetos haviam sido modificados geneticamente para que um impulso de luz ativasse esse grupo de neurônios responsáveis pela corte.
Primeiro, os pesquisadores observaram as moscas macho e verificaram que o impulso de luz podia realmente fazê-lo cantar.
“A segunda, e mais excitante, questão que queríamos perguntar era o que aconteceria se ativássemos os neurônios das fêmeas. Elas normalmente não mostram esse tipo de comportamento, mas queríamos descobrir se tinham uma capacidade oculta para fazer isso”, disse Miesenboeck.
Quando a luz chegava ao “mini-estúdio”, as fêmeas voavam levantando e vibrando uma das asas para produzir uma música.
O estágio seguinte foi verificar se essas músicas artificialmente induzidas conseguiriam seduzir outras moscas.
Um macho e uma fêmea foram colocados no estúdio. O macho teve suas asas alteradas para que não conseguisse produzir nenhum som.
O casal “mudo” foi então exposto a uma gravação das músicas de corte produzidas pelos machos e pelas fêmeas com neurônios alterados.
As músicas dos machos ativadas artificialmente se mostraram efetivas, mas os sons produzidos pelas fêmeas não tiveram muito impacto em levar as moscas a copular.
“Quando analisamos essas músicas, descobrimos que havia diferenças sutis entre a música dos machos e as músicas produzidas artificialmente pelas fêmeas – o volume estava um pouco diferente, estava fora do ritmo e a música, de maneira geral, estava menos bem controlada”, explicou Miesenboeck.
Porém os pesquisadores dizem que o estudo revelou que os cérebros dos machos e das fêmeas são extremamente semelhantes nas moscas, mesmo nos circuitos dedicados a comportamentos sexuais como a corte.
A próxima questão a ser respondida, segundo Miesenboeck, é por que somente os machos criam músicas de corte em circunstâncias normais, se as fêmeas também têm a capacidade para fazê-lo.
Ele disse acreditar que poderia haver vários “interruptores” ou “comandos centrais” nos cérebros das moscas que podiam ser colocados no modo masculino ou feminino. “Nosso próximo objetivo é encontrar esses interruptores”, diz o pesquisador. (Fonte: Estadão Online)