Aos 9 anos de idade, a pequena Luisa Andresa Datto Liberato confessa que ainda não conseguiu decorar todas as cores das lixeiras de coleta seletiva de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas nem por isso ela se deixa intimidar. Pelo contrário, faz questão de puxar a orelha de quem desperdiça água ou joga lixo no chão. Luisa não aprendeu sozinha tudo o que sabe sobre preservação do meio ambiente. Graças a um teatro itinerante e outras ações promovidas pela Prefeitura de Nova Lima que ela e outras crianças e adultos estão aprendendo a ajudar a preservar do corredor ecológico que cerca o município.
O ator Ronan Moreira, da Companhia de Teatro Bollonomi, disse que, no ano passado, o grupo teatral entregou um projeto à Prefeitura de Nova Lima que tinha o meio ambiente como tema principal. “Eles aprovaram e a partir daí criamos um teatro itinerante que passa por todos os bairros e escolas municipais da cidade, falando sobre os cuidados que se deve ter com a natureza”, explicou.
Em 2007, a companhia apresentou a peça “‘O ambiente no meio da gente”.
Neste ano, dentro do projeto Patrulheiro da Água, está sendo apresentada “Um conta-gotas”. A peça teve início em março e será encenada até novembro. A partir de setembro, às terças e quartas-feiras, a companhia começa a fazer apresentações nas escolas. “A reação é impressionante, principalmente das crianças. Quando comentamos sobre o desperdício das águas, elas chamam a atenção dos pais. Mas todo o público nos surpreende, tornando o nosso trabalho extremamente gratificante”, disse Moreira.
Para o secretário de Meio Ambiente de Nova Lima, Antônio Henrique dos Santos, trabalhar a conscientização ambiental da comunidade não é tarefa nada fácil. “Exatamente porque trabalhamos com a consciência. A pessoa só respeita o meio ambiente se acreditar que aquilo de fato faz bem para ela. Do contrário, não se importa”, ressaltou. Ainda de acordo com o secretário, embora o tema esteja sendo debatido com freqüência, as pessoas ainda não têm uma visão ampla sobre o assunto. “«Encontramos muita dificuldade, porque entendemos que a questão ambiental não é apenas a criação de um parque ecológico, por exemplo, mas a capacidade de criar um projeto que ajude a preservá-lo”, afirmou Santos.
Sobre o corredor ecológico de Nova Lima, o secretário argumenta que não basta apenas fiscalizar ou punir. “Estamos fazendo visitas em todos os bairros do município, focando a preservação. É um questão socioambiental, queremos multiplicar os defensores da natureza, fazer com que a população de fato se comprometa, não só por uma questão de preservação, mas para que o ambiente fique melhor para todos e haja uma participação popular efetiva”, disse.
Para Santos, as pessoas que participam dos programas e eventos de conscientização têm mostrado resultados positivos. “Estamos levantando a demanda da comunidade para que seja feito um planejamento e uma organização coerente, que corresponda às necessidades dela. O fundamental é que a sociedade entenda que, para preservar os corredores ecológicos de Nova Lima, é preciso ir além deles. Buscar resultados para questões como o saneamento ambiental, a preservação das águas, a rede coletora de esgoto e até o aterro sanitário, porque todos estão interligados”, argumentou.
O secretário ressalta que o comprometimento parte de ações não apenas do governo, mas de toda a comunidade. “O Parque Ecológico Rego dos Carrapatos, que faz parte do corredor ecológico, por exemplo, não poderia, até pouco tempo, ser de fato considerado um parque, por receber esgoto de vários bairros. Não adiantava nada fazer um trabalho paisagístico se não há um plano de manejo para aquela região. Agora estamos com um projeto de educação ambiental que envolve a população, com relação às áreas degradadas”, disse.
O biólogo Sandro Ivens Ribeiro concorda com o secretário e explica que existem duas tipologias de vegetação, a Mata Atlântica e o Cerrado. Nova Lima está ligada aos fragmentos da Mata Atlântica. Uma das condições que beneficiam o município, para o biólogo, é que grande parte da mata já está preservada dentro das unidades de conservação, que são protegidas por lei. “Os únicos locais que exigem um pouco mais de atenção são os loteamentos antigos. Quando eles foram criados não existia uma regulamentação tão rigorosa ou que se preocupava tanto. Eles são responsáveis por uma das nossas maiores preocupações, que são as ocupações urbanas”, afirmou.
A Mata do Jambreiro, segundo o biólogo, faz parte do corredor ecológico de Nova Lima. “Ela faz interligação com a região de Macacos e várias outras matas e estamos sempre nos preocupando com a mata. Os animais precisam se deslocar, se alimentar, procriar e alguns deles demarcam determinado lugar, que muitas vezes é destruído. Se a pessoa tem uma propriedade dentro desse circuito, é preciso que ela fique muito atenta quando for construir, para não cortar esse elo do animal com a natureza”, alertou.
De acordo com Ivens, há um condomínio na região que foi cauteloso quanto às construções das casas, antes de iniciar as obras. “O Vale dos Cristais fez um levantamento dessa circulação para não interromper locais importantes e específicos do corredor”, concluiu. (Fonte: Clarissa Carvalhaes/ Jornal Hoje em Dia/MG)