Três substâncias obtidas a partir de algas marinhas comestíveis estão em estudo pré-clínico e podem se tornar anti-retrovirais de baixa toxicidade, capazes de inibir as três etapas de replicação do vírus HIV: a transcriptase reversa, a protease e a morfologia viral. As substâncias também poderão ser utilizadas para prevenir a contaminação da doença, com a aplicação de uma pomada microbicida nos genitais antes da relação sexual.
A pesquisa, iniciada em 1996 e elaborada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em conjunto com a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou 22 compostos naturais encontrados na costa brasileira. A partir das substâncias selecionadas, a equipe planeja desenvolver medicamentos, via oral ou injetável, com baixos efeitos colaterais, para portadores de Aids resistentes aos anti-retrovirais existentes – há 17 tipos no mercado.
Os resultados preliminares do estudo, divulgados nesta sexta-feira, mostraram que em testes in vitro, as substâncias foram capazes de inibir a replicação do HIV em macrófagos e linfócitos, células envolvidas na resposta imunológica do organismo humano diante à infecção pelo vírus. Já nos testes feitos em camundongos, foi comprovado o baixo nível tóxico das substâncias.
– Este é o grande diferencial, já que os medicamentos disponíveis atualmente são eficazes, mas têm efeitos colaterais severos – explica o líder da pesquisa, o imunologista Luiz Roberto Castello Branco.
Cerca de 33 milhões de pessoas no mundo sofrem de Aids. No ano passado, 2,5 milhões foram infectadas no Brasil – a maioria das novas infecções são por relações extra-conjugais, geralmente cometidas por maridos que não usam preservativos e não concordam que suas mulheres usem também.
Assim, apostam os especialistas, o microbicida brasileiro será uma maneira das mulheres se prevenirem. Na forma de pomada ou gel incolor, elas poderão aplicar o remédio na vagina antes das relações sexuais. O feito será de 12 horas.
– Mas a pomada deverá ser usada juntamente com o preservativo – alerta Valéria Laneuville.
A estimativa é de que as substâncias entrem na fase de teste clínico em 2010, e cheguem ao mercado em 2015. No caso de uma delas ser aprovada, já representaria uma economia de R$ 50 a 100 milhões ao ano para o país, que gasta, durante um mesmo período, mais de R$ 1 bilhão com royalties e compras de medicamentos no exterior, segundo Castello Branco.
(Fonte: Cecilia MInner / Jornal do Brasil)