“No interior do gelo está o material que nos interessa: são pequenos glóbulos de ar retidos durante centenas de anos. Com esse material é possível fazer comparação entre atmosfera passada e atmosfera presente, ver a diferença entre a concentração de gás carbônico, a temperatura da terra”, explicou a coordenadora para Mar e Antártica do Ministério da Ciência e Tecnologia, Maria Cordélia Machado.
De acordo com a coordenadora, essa foi a primeira vez que pesquisadores brasileiros avançaram continente adentro. “Ele ficaram muito próximos do Pólo Sul”, relata. As amostras de gelo foram coletadas a 45 e a 95 metros de profundidade no Monte Johns, a mais de mil quilômetros da Estação Antártica Comandante Ferraz, base brasileira no continente.
Segundo Maria Cordélia, as pesquisas com gelo são fundamentais para o estudo das mudanças climáticas, por fornecer comparações numéricas da concentração de gás carbônico, um dos chamados gases de efeito estufa, que, intensificado, provoca o aquecimento global.
“É fundamental saber que quantidade de gás carbônico existia em 1700, depois comparar com a concentração do gás na época da Revolução Industrial e com a nossa época para traçar estratégias para o futuro do planeta”, avaliou.
Além dos estudos climáticos, a Antártica é cenário para pesquisas sobre radiação solar, raios ultravioleta e camada de ozônio. “Outro exemplo é o estudo do não-congelamento do sangue de peixes antárticos, para, com base nisso, desenvolver pesquisas para a saúde humana”, acrescentou a coordenadora do MCT.
A expedição Deserto de Cristal ainda não tem novas viagens programadas ao interior do continente. A partir dos resultados obtidos com as amostras coletadas, o grupo definirá as próximas etapas e a necessidade de novas coletas.
Já a Estação Antártica Comandante Ferraz funciona durante todo o ano, com pesquisas dedicadas principalmente ao estudo da biodiversidade do chamado continente gelado. “O Brasil agora tem dois navios antárticos, vai poder trabalhar muito bem toda a baía, o entorno, com pesquisas oceanográficas, sobre a biodiversidade”, destacou a coordenadora. (Fonte: Luana Lourenço/ Agência Brasil)