Até que as águas de março fechem o verão, raios cortarão os céus de São Paulo como em nenhum outro local do Brasil. E alguns trechos da zona leste e do centro sentirão esse fenômeno com maior intensidade. A Folha teve acesso a um estudo inédito do Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que aponta esses como os locais com maior incidência de raios na cidade de São Paulo.
Nas regiões da Vila Prudente, Aricanduva, Itaquera e Penha, a incidência de raios chega a 11 por km2 por ano. Ou seja, é grande a chance de ao menos 11 raios caírem por ano a no máximo 1 km da sua casa, se você morar, por exemplo, no Jardim Anália Franco ou no Tatuapé, na zona leste da cidade.
Para efeito de comparação, a incidência na cidade do Rio de Janeiro é de 2,24 por km2 por ano. Em trechos da Serra do Mar, ainda na cidade de São Paulo, no distrito de Marsilac (extremo sul), o índice é de 3,5. E o que explica o fenômeno? Uma mescla de urbanização, asfaltamento, prédios e poluição, diz o coordenador do Elat, Osmar Pinto Junior, engenheiro eletrônico e doutor em geofísica espacial.
“A razão da alta incidência de raios em São Paulo é a atividade urbana responsável pela “ilha de calor” que se forma em decorrência do asfalto, dos prédios e da poluição. Este efeito é mais sensível nas regiões central e leste da capital, levando a uma maior ocorrência de raios nestas regiões”, afirmou.
Expansão – O fenômeno acaba se expandindo também para cidades da região metropolitana. São Caetano do Sul, por exemplo, vizinho à Vila Prudente, é a cidade com maior incidência de descargas elétricas do Brasil, com 12,153 por km2 por ano. O dado em si é curioso, mas para o que ele serve exatamente? O coordenador do Elat explica que, para definir o tipo e a capacidade dos para-raios, é preciso conhecer a incidência de raios naquela região.
Atualmente, as orientações da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em relação ao assunto consideram dados da década de 1970 feitos um sistema precário que tinha como base a quantidade de trovões que os técnicos ouviam. Agora, a Rede Brasileira de Monitoramento de Descargas usa equipamentos modernos que definem com precisão de até 10 metros o local onde caiu o raio.
Seguros – A informação também interessa ao mercado de seguros que, assim como faz com os automóveis -cobra mais caro em locais com maior índice de roubos-, pode elevar ou reduzir os valores do seguro residencial de acordo com o risco de raios. A maior quantidade de descargas na zona leste em relação, por exemplo, à zona sul é ignorada “tanto do ponto de vista da proteção de estruturas como pelas seguradoras”, diz o coordenador do Elat. (Fonte: Evandro Spinelli/ Folha Online)