Trata-se da primeira vez que um asteróide foi detectado no espaço antes de cair na Terra. A edição desta quinta-feira (26) da revista Nature destaca em sua capa um artigo produzido por um grupo internacional de pesquisadores sobre o impacto do 2008 TC3, como foi denominado o objeto.
Como se sabia onde ele cairia, um grupo de cientistas correu para coletar os pedaços resultantes da entrada na atmosfera terrestre. Afinal, era a primeira oportunidade na história de comparar observações de um asteróide feitas por telescópios com análises em laboratório de seus fragmentos. Do telescópio ao microscópio.
“Tais corpos têm sido observados como bolas de fogo com trilhas de fumaça à medida que passam pela Terra. É algo que observamos há anos. Mas ver um desses objetos antes que ele entre na atmosfera e segui-lo até o ponto de sua queda, isso é algo inédito”, disse Douglas Rumble, do Laboratório de Geofísica da Instituição Carnegie, nos Estados Unidos, um dos autores do artigo.
Embora diversos pequenos objetos semelhantes ao TC3 atinjam a Terra todos os anos, até agora ninguém havia observado um antes que tal impacto ocorresse. Desta vez, o asteróide foi identificado no dia 6 de outubro, menos de 24 horas antes de cair no deserto africano, por telescópios do Catalina Sky Survey, no Arizona.
Nas horas seguintes, astrônomos de diversos países foram alertados e passaram a calcular a trajetória e efetuar medidas da composição do objeto. As composições químicas de asteróides podem ser estudadas da Terra por meio da análise do espectro da luz solar refletida em sua superfície.
O método possibilita a obtenção de dados suficientes para dividir asteróides em categorias, mas não é suficiente para fornecer informações detalhadas de suas composições químicas, o que é feito com a análise laboratorial. Por outro lado, meteoritos encontrados podem ser analisados diretamente, mas não se tem informação direta de que tipo de asteróide eles derivam – fragmentos de asteróides (ou de meteoróides, que são menores) ao cair na Terra passam a se chamar meteoritos.
Até a queda, o asteróide foi observado por telescópios e satélites e o brilho resultante de sua explosão na atmosfera foi visto por habitantes da região ao nordeste do Sudão e até mesmo pelo piloto e copiloto de um voo comercial que fazia a rota Joanesburgo-Amsterdã. Mas, semanas após o evento, ninguém tinha sinal de fragmentos.
No início de dezembro, Peter Jenniskens, do Instituto Seti, na Califórnia, decidiu ir ao Sudão, onde se encontrou com Muawia Shaddad, da Universidade de Cartum. Os dois lideraram uma equipe com 45 estudantes e integrantes da universidade na capital sudanesa e partiram em busca do que sobrou do asteróide.
Em poucos dias, o grupo conseguiu encontrar 47 fragmentos do TC3, um dos quais foi selecionado para análise laboratorial na Instituição Carnegie.
“Por ser feito de um material particularmente frágil, o asteróide explodiu a 37 quilômetros da superfície, fazendo com que seus fragmentos fossem espalhados por uma área extensa. Os meteoritos encontrados são diferentes de qualquer outro de que se tem notícia”, disse Jenniskens, primeiro autor do artigo.
A análise laboratorial mostrou sinais de que em algum ponto no passado o objeto foi submetido a temperaturas muito elevadas. “Sem dúvida alguma, de todos os meteoritos que estudamos, o carbono nesse foi cozido por mais tempo. Esse carbono, parecido com grafite, é o principal constituinte do meteorito”, disse Andrew Steele, da Instituição Carnegie.
Nanodiamantes são outra forma de carbono encontrada no fragmento, o que, segundo os autores da pesquisa, oferece pistas sobre se o aquecimento foi causado por impactos em um asteróide original e maior ou por outros processos.
Isótopos de oxigênio fornecem informações sobre a “mãe do asteróide”. Cada fonte de meteoritos no Sistema Solar, incluindo planetas como Marte, tem uma assinatura química específica dos isótopos 16O, 17O e 18O. Essa assinatura pode ser reconhecida até mesmo quando outras características variam, como a composição química ou o tipo de rocha.
“Isótopos de oxigênio representam a medida mais eficaz para determinar o grupo familiar de um meteorito”, disse Rumble. Segundo ele, o TC3 pertence a uma categoria de meteoritos muito raros conhecidos como ureilitos, que podem ter derivado de um único objeto. Apenas 0,5% dos objetos que atingem a Terra estão nessa categoria.
O artigo The impact and recovery of asteroid 2008 TC3, de Peter Jenniskens e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com. (Fonte: Agência Fapesp)