Só na Floresta Nacional do Jamamxim, no oeste do Pará, há mais de 200 mil cabeças. A área protegida foi estabelecida há três anos, mas muitos produtores rurais que estavam lá antes da criação da reserva permanecem no local à espera de uma solução.
“Nós entramos aqui na década de 1980 e 1990. Eles nos legalizam e nós assumimos o compromisso em contrapartida de não derrubar mais”, propõe Luiz Helfgtaing, presidente de uma associação de produtores do local.
A pecuária é a última etapa de um processo de desmatamento que começa com a derrubada das árvores para vender a madeira e segue com a queimada para limpar a área. Essas atividades já consumiram um quarto da floresta que fica na área de influência da rodovia BR-163, que vai de Cuiabá, em Mato Grosso, a Santarém, no Pará. Um estudo do Ministério do Meio Ambiente mostra que, entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, a região foi uma das mais devastadas do país.
Walter Moura, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guarantã, em Mato Grosso, é testemunha da ação ilegal dos madeireiros. “Em qualquer época, o caminhão entra e sai tranquilamente. Raramente se prende um caminhão aqui extraindo madeira. Nós já sofremos várias ameaças de morte por inúmeras vezes, mas ninguém nunca tomou providencias em relação a isso também”, relata.
Repressão difícil – Em Novo Progresso, no Pará, quem tenta combater a ilegalidade enfrenta dificuldades. Enquanto a equipe da TV Globo visitava a região, funcionários do Ibama estavam ilhados na sede do instituto. No dia anterior, haviam sido ameaçados porque apreenderam caminhões com madeira ilegal. Para evitar confrontos, os fiscais foram orientados pela direção do Ibama a não deixar o prédio.
Mas a repressão está mudando comportamentos: quem trabalha na legalidade começa a se virar contra os madeireiros clandestinos. “A gente quer que as coisas aqui cheguem, que venham, nos ensinem, nos mostrem, nos legalizem para depois nos cobrarem”, diz Edvana Morana, presidente da Associação da Indústria Madeireira de Castelo dos Sonhos, no Pará.
Ouro – O garimpo é outro vilão, sempre à espera de uma oportunidade para se expandir. É o que ocorre em União do Norte, em Mato Grosso. O dono de um garimpo ilegal já atua em dois terrenos, arrendados de pequenos produtores. Ele retira um quilo e duzentos gramas de ouro por mês, e faz propostas para expandir o garimpo.
José Cavalcanti, conhecido como “Bigode”, diz que foi procurado por ele. “Na minha área, enquanto eu mandar, ninguém vai mexer. Eu já trabalhei em garimpo há uns 20 anos e nunca levei nada de garimpo”, afirma o morador de Mato Grosso, que não quer ser cúmplice na destruição do meio ambiente, pois o garimpo já poluiu a água de um dos córregos locais.
Soja, milho, arroz e algodão – A agricultura completa o ciclo de interesse nas terras da floresta. No Pará, ao longo da BR-163, ela pouco se desenvolveu. Mas em Mato Grosso, encontrou terreno fértil na chamada mata de transição do Cerrado para a Amazônia.
Num sobrevoo pela região, a paisagem mostra que a vegetação original hoje se reduz a quase nada. Onde não há soja, está o milho, o arroz e o algodão. (Fonte: Globo Amazônia)