O estudo acadêmico realizado pelo Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) e coordenado pelo professor Martin Parry, da universidade britânica Imperial College London, acrescenta que o custo total pode subir muito mais se forem levados em conta os impactos de outras atividades humanas.
Em 2007, a convenção da ONU sobre clima estimou o custo de adaptação à mudança climática no ano 2030 entre US$ 49 bilhões e US$ 171 bilhões por ano. Bem mais que a metade desse valor teria de ser aplicado em países em desenvolvimento.
No entanto, os cientistas reunidos pelas Nações Unidas não levaram em conta setores como energia, indústria, comércio, mineração e turismo. Além disso, outros setores incluídos teriam sido apenas “parcialmente cobertos” nos cálculos de 2007.
“Só avaliando detalhadamente os setores estudados pela UNFCCC, estimamos os custos de adaptação entre duas e três vezes mais altos. E se forem incluídos setores que a UNFCCC deixou de fora, o custo verdadeiro é muito maior”, afirmou Parry, copresidente do grupo do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), que avaliou estudos sobre impactos, vulnerabilidade e adaptação entre 2002 e 2008.
Copenhague – O “preço da adaptação” é um dos principais pontos usados para nortear as negociações internacionais sobre mudança climática. Analistas acreditam que essa seja uma das maiores dificuldades às vésperas da reunião da ONU sobre o assunto em Copenhague, em dezembro.
Na reunião na Dinamarca, será discutido um novo tratado internacional para substituir o Protocolo de Kyoto, que estabelece limites às emissões de gases do efeito estufa e que expira em 2012.
“As finanças são a chave para um acordo, mas se os governos estiverem trabalhando com números errados, podemos acabar com um acordo falso que não vai cobrir os custos de adaptação”, afirmou a diretora do IIED, Camilla Toulmin,
Para chegar à nova estimativa, o grupo de 11 estudiosos avaliou também outros relatórios, não apenas o levantamento da UNFCCC.
As principais áreas examinadas por estes documentos são agricultura, silvicultura, pesca, água, saúde humana, zonas costeiras, infraestrutura e ecossistemas.
Os estudiosos chegaram à conclusão de que entre os fatores que contribuíram para que a estimativa da ONU ficasse abaixo do que consideram realista está a metodologia para calcular os impactos das mudanças climáticas sobre zonas costeiras e abastecimento d’água em 2030.
Segundo o estudo do IIED, as consequências podem ser bem mais drásticas que o previsto pela convenção, porque já nas próximas décadas os impactos podem ser muito mais graves.
Mau tempo – Desde 2007, boa parte da literatura científica indica que o nível dos oceanos está subindo mais rapidamente do que se acreditava, o que levou os cientistas a triplicarem o investimento em adaptação em zonas costeiras, incluindo ainda uma maior incidência de tempestades, deixada de fora do relatório de 2007.
A infraestrutura é outro ponto considerado muito subvalorizado. O novo estudo afirma que ainda são necessário investimentos para que regiões pobres sejam capazes de reduzir o atual déficit de infraestrutura, antes mesmo de investimentos em adaptação para reduzir a vulnerabilidade à mudança climática.
Com tudo isso, os custos especificamente para adaptação de infraestrutura podem ficar até oito vezes acima dos US$ 130 bilhões orçados (como teto) pela UNFCCC.
Na área de saúde, a estimativa da convenção da ONU é de que sejam necessários US$ 5 bilhões por ano, mas só leva em conta as doenças malária, diarreia e desnutrição.
Segundo os estudiosos coordenados por Martin Parry, isso só cobriria entre 30% e 50% do necessário para adaptação na área de saúde.
Na área de água, a ONU excluiu o custo em adaptação à enchentes e de transferência de água entre países vizinhos. Com isso, o custo ficou em US$ 11 bilhões, “substancialmente” abaixo do que pode ser necessário, segundo o novo relatório.
Por último, os especialistas também sugerem a inclusão da adaptação de ecossistemas aos cálculos de custo. Como isso não entrou no relatório da UNFCCC, a equipe de Martin Parry estima que sejam necessários mais US$ 350 bilhões por ano para adaptar tanto áreas protegidas quanto não protegidas. (Fonte: Estadão Online)