Para a indústria paulista, o Brasil, por ser um dos países com a maior proporção de fontes renováveis na matriz energética, já fez o “dever de casa” e deve esperar posturas mais ousadas dos países desenvolvidos antes de apresentar alguma meta sobre as emissões de carbono.
“Os países desenvolvidos, que desde o século 19 poluem e encheram de carbono a atmosfera, têm que nos deixar também continuarmos nosso desenvolvimento”, disse o vice-presidente da Fiesp, João Guilherme Ometto.
“Nós não podemos pagar o pato”, acrescentou Ometto após encontro com o ministro do Meio Ambiente da Dinamarca, Troels Poulsen, cujo país sediará em dezembro uma cúpula da ONU para firmar um novo tratado climático global que substituirá o Protocolo de Kyoto.
O Brasil deve apresentar, antes da reunião de Copenhague, metas para uma redução significativa das emissões de carbono, mas em entrevista à Reuters na quarta-feira o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, ressaltou que a proposta atual dos EUA é inaceitável.
Além disso, para o diretor de Energia da Fiesp, Carlos Cavalcanti, é muito clara a posição da entidade de que “não temos que nos misturar com China e Índia, porque esses países vão ter que fazer esforços enormes em termos de mudança de matriz energética”.
“(E os EUA) têm que chegar no mínimo a 25 por cento (de meta de redução) para esse jogo começar”, disse. A meta atual dos EUA é de chegar a 2020 com o mesmo nível, sem cortes, nas emissões de carbono em relação a 1990.
A Fiesp não quis opinar sobre possíveis metas do Brasil para a redução das emissões de carbono, e afirmou que a entidade trabalha para que o país tenha uma posição única e firme nas negociações climáticas, que culminarão em dezembro, em Copenhague.
Negociações duras – Na entrevista coletiva, o ministro dinamarquês pediu um esforço maior dos países desenvolvidos e em desenvolvimento nas “duras negociações” por um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, mas disse estar satisfeito com a postura apresentada pelo Brasil. Ele se encontrou com Minc na véspera.
Especialistas da ONU estimam que o mundo deve realizar cortes de 25 a 40 por cento nas emissões de gases do efeito estufa até 2020 para evitar os piores efeitos do aquecimento global, como secas e a elevação do nível do mar.
Países desenvolvidos têm apresentado metas inferiores, e cobram uma atuação maior de nações em desenvolvimento. Mas os países mais pobres e economias emergentes, no entanto, alegam que precisarão ser bem recompensados para que possíveis cortes não afetem seu desenvolvimento.
Sobre a exigência de países mais pobres – principalmente na África – por compensações financeiras, Poulsen comentou que este é apenas um dos pontos das negociações, e ressaltou a possibilidade de realizar transferências de tecnologia.
Segundo Poulsen, a reunião com os representantes da Fiesp tratou de biocombustível, biomassa e tecnologias ecologicamente corretas, mas não abordou o tema dos créditos de carbono.
Poulsen e os representantes da Fiesp concordaram que o Brasil pode conjugar a exploração no pré-sal com um crescimento econômico “ecologicamente correto”.
De acordo com Cavalcanti, da Fiesp, o petróleo deve ser bastante usado no mundo pelo menos nos próximos 50 anos mesmo com todos os esforços atuais por alternativas renováveis. (Fonte: JB Online)