Esse tipo de machado de duas faces é chamado de acheulense, pois o sítio-modelo arqueológico fica em Saint Acheul, na França. Ferramentas de pedra desse tipo foram achadas em sítios na África com idades de 1,5 milhão de anos, mas a mais antiga na Europa tinha “apenas” 500 mil.
Gary R. Scott e Luis Gibert, ambos do Centro de Geocronologia de Berkeley, Califórnia, reavaliaram os sítios de Cueva Negra del Estrecho del Río Quípar e de La Solana del Zamborino, entre as cidades espanholas de Granada e Alicante.
O machado de Quípar tem 900 mil anos, e dois achados em Solana passam a ter 760 mil. Mas não se sabe qual espécie de hominídeo os fabricou. Em Quípar foram achados dentes humanos, mas de dimensões diferentes dos dentes dos humanos modernos.
Ferramentas mais primitivas, da tradição Olduvai, estão associadas com o ancestral humano Homo habilis. “As primeiras ferramentas acheulenses associadas a fósseis humanos na África são de Homo erectus e Homo ergaster, por isso provavelmente houve um segundo êxodo da África para a Eurásia dessas espécies há cerca de 1 milhão de anos, mas nós não sabemos qual foi o hominídeo que produziu essas ferramentas em Solana e Quípar. Se um novo achado revelar um crânio humano, teremos a resposta”, disse Gibert à Folha.
O novo estudo foi feito com base no paleomagnetismo de rochas dos sítios. Certos minerais preservam a orientação magnética da época em que se formaram. Como o campo magnético do planeta muda ao longo do tempo – com a agulha da bússola apontando ora para o norte, como hoje, ora para o sul -, essas rochas indicam a idade dos fósseis e artefatos preservados nas suas camadas.
“A melhor técnica em termos de resolução que podemos usar nesses dois sítios é o paleomagnetismo. Infelizmente, não há rochas vulcânicas em nenhum dos dois lugares, por isso não podemos usar técnicas de melhor resolução como a datação baseada em isótopos (variantes de um mesmo elemento químico)”, afirma Gibert.
“O paleomagnetismo pode ser bem preciso se os objetos ou sítios a serem datados estiverem próximos de uma fronteira de polaridade magnética”, diz. “Este é o caso de Solana. Sabemos que a última reversão magnética completa ocorreu há 780 mil anos, e nós identificamos essa mudança lá.” (Fonte: Folha Online)