Cimi denuncia incêndio de moradias de Guarani Kaiowá

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou na terça-feira (15), em nota, que pessoas não identificadas queimaram na noite de segunda (14) cerca de 35 casas de índios Guarani Kaiowá, que formavam a Aldeia Laranjeira Ñanderu, no município de Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul.

As moradias tinham sido erguidas em parte de uma fazenda reivindicada pelos indígenas como terra tradicionalmente ocupada por seus antepassados. Os indígenas deixaram a aldeia na última sexta-feira (11) por ordem judicial, mas animais e pertences dos guarani ainda foram queimados, segundo relatos de lideranças reproduzidos pelo Cimi. Os mesmos relatos dão conta de que toda a comunidade passou a noite sem dormir, com medo de novos ataques.

“Toda a intencionalidade vai no sentido de afastar a comunidade da beira da estrada e vê-los longe de sua terra tradicional”, criticou o coordenador regional do Cimi, Egon Heck.

No momento, os cerca de 130 índios da aldeia estão acampados à beira da BR-163, em frente à Fazenda Santo Antônio de Nova Esperança, e pretendem ficar ali até que seja feita a demarcação de seu território tradicional. Estudos antropológicos que antecedem o reconhecimento de novas áreas indígenas em Mato Grosso do Sul devem ser retomados em breve. A Fundação Nacional do Índio (Funai) trabalha na elaboração de novas portarias para embasar os procedimentos.

A Agência Brasil tentou contactar dois líderes da Aldeia Laranjeira Ñanderu por meio de telefones celulares, mas os aparelhos estavam desligados.

A luta histórica dos indígenas pelo reconhecimento de seu direito a terras tradicionalmente ocupadas em Mato Grosso do Sul foi tema de recente reportagem especial da Agência Brasil, na qual foram abordadas as origens e consequências do quadro fundiário de extremos que caracteriza o estado. Fazendeiros instalados em terras produtivas – quase todos com títulos legais emitidos pela União ao longo do último século – e índios em condição miserável convivem lado a lado sob a tensão decorrente da disputa fundiária. Os indígenas alimentam o desejo de regressar às terras que ocupavam antes do processo de colonização da região. (Fonte: Marco Antonio Soalheiro/ Agência Brasil)