Em carta publicada nas revistas especializadas Lancet e British Medical Journal, as entidades pedem a médicos em todo o mundo que “assumam a liderança” no debate sobre o assunto.
Em editoriais, as duas publicações especializadas afirmam ainda que o impacto será maior sobre habitantes de países tropicais pobres. As revistas argumentam que conter as mudanças climáticas poderia trazer outros benefícios, como dietas mais saudáveis e um ar mais puro.
A cúpula da ONU marcada para dezembro, em Copenhagen, na Dinamarca, vai discutir um novo tratado global para o clima, que substituirá o Protocolo de Kyoto.
No entanto, as negociações preparatórias tem sido prejudicadas pela falta de acordo em questões como quanto das emissões de gases associados ao efeito estufa deve ser cortado e como financiar a proteção climática para os países mais pobres.
“Existe um perigo real de que os políticos estejam indecisos, especialmente em tempos de turbulência econômica como estes”, diz a carta assinada por diretores de 18 faculdades de medicina e de outras disciplinas médicas.
“Se as respostas (dos políticos) forem fracas, os resultados para a saúde internacional podem ser catastróficos.”
Risco Crescente – No ínicio do ano, a Lancet publicou, em associação com a University College London, uma grande avaliação dos impactos da mudança climática sobre a saúde.
O levantamento concluiu que o aumento na temperatura global deverá aumentar a transmissão de doenças infecciosas, reduzir suprimentos de comida e água pura em países em desenvolvimento e aumentar o número de pessoas morrendo por problemas associados ao calor em regiões de clima temperado.
Mas a avaliação também reconhecia algumas lacunas na pesquisa. Por exemplo, “quase não existem dados confiáveis sobre mortalidade induzida por ondas de calor na África ou no sul da Ásia”.
Ainda assim, a principal conclusão do estudo foi que, em um mundo que deverá ter 3 bilhões de novos habitantes em meados deste século, “os efeitos da mudança climática sobre a saúde vão atingir a maior parte das populações nas próximas décadas e colocar as vidas e o bem-estar de bilhões de pessoas sob risco crescente”.
Os editoriais da Lancet e do British Medical Journal, que acompanham a carta das entidades médicas, argumentam que a mudança climática fortalece as propostas que organizações governamentais ligadas à saúde e ao desenvolvimento já vêm defendendo.
“Mesmo sem mudança climática, o argumento a favor de energia limpa, carros elétricos, proteção de florestas, eficiência no uso de energia e novas tecnologias agrícolas é forte”, diz o texto. “A mudança climática torna-o irrefutável.”
O editorial, escrito conjuntamente por Michael Jay, presidente da ONG de saúde Merlin, e por Michael Marmot, da UCL, diz ainda que existem várias soluções possíveis.
“Uma economia de baixas emissões de carbono vai significar menos poluição”, afirma o editorial. “Uma alimentação com baixas emissões de carbono (especialmente com menor consumo de carne) e mais exercícios vão significar menos problemas como câncer, obesidade, diabetes e doenças cardíacas.” (Fonte: Estadão Online)