Arqueologia tenta desvendar história dos antigos moradores de Roraima

Roraima tem mais de cem sítios arqueológicos, mas os povos que habitaram o estado no extremo norte do país ao longo da história ainda são pouco conhecidos. “Temos aqui datações de até 4 mil anos”, relata a arqueóloga e professora de história da Universidade Federal de Roraima (UFRR) Shirlei Martins, que acaba de apoiar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a cadastrar um novo sítio em São Luiz do Anauá, município ao sul da capital Boa Vista.

“Já são mais de 80 sítios cadastrados em Roraima. O potencial arqueológico do estado é muito grande”, afirma Carla Gisele Moraes, superintendente do Iphan no estado.

De acordo com Shirlei, o povo mais conhecido são os chamados rupununi, que viveram na área de savana ao norte do estado, próximo à fronteira com a Guiana. Vestígios apontam que eles estiveram na região desde 1.200 anos atrás, até os primeiros contatos com os europeus, no século 18. “Eles enterravam seus mortos em urnas funerárias com muitos materiais interessantes, inclusive artefatos europeus que receberam”, conta Shirlei.

A pesquisadora explica que, além de urnas funerárias, são comuns os desenhos em rocha nas áreas de savana ao norte de Caracaraí. Nas regiões de floresta, mais ao sul do estado, não se encontram pinturas rupestres, mas petroglifos, desenhos escavados na pedra em baixo-relevo.

Segundo a professora, se supõe que os povos que viveram na região da savana têm mais ligação com os índios caribenhos, enquanto os do sul do estado têm relação com os habitantes do Rio Negro, embora isso não seja confirmado.

Para estabelecer uma relação dos antigos habitantes do sul de Roraima com o resto da bacia do Rio Negro, seria necessário fazer uma comparação de seus desenhos com os de sítios no Amazonas. No entanto, devido à umidade, é difícil encontrar vestígios bem conservados nessas regiões. “As pesquisas são poucas ainda”, aponta a cientista.

Rumores sobre antigos desenhos incas, fenícios e até gregos no estado amazônico não são verdadeiros, segundo a historiadora.

O trabalho arqueológico em Roraima esbarra na falta de recursos. De acordo com Shirlei Martins, o estudo de alguns sítios só está sendo possível porque os municípios que os abrigam resolveram dar apoio logístico. “Trabalhamos com recursos próprios”, afirma. (Fonte: Dennis Barbosa/ Globo Amazônia)