Ao apresentar as ações ambientais do governo paulista, Serra destacou o papel da pesquisa científica e, em particular, dos programas da Fapesp voltados para mudanças climáticas, bioenergia e biodiversidade.
O evento “Agricultura – Florestas Plantadas – Bioenergia”, promovido pela Aliança Brasileira pelo Clima no dia 14, reuniu cerca de 30 organizações não-governamentais que atuam no Brasil, além de empresários e autoridades como o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, o secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Francisco Graziano, e o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz.
Serra criticou a visão de algumas lideranças internacionais sobre o etanol brasileiro e classificou como “mitos” as ideias de que a produção de etanol possa invadir a Amazônia ou resultar na escassez de alimentos no mundo.
“Essa fantasia do etanol como fator de destruição da Amazônia e causa de crise alimentar é uma confusão que parte do menosprezo ao progresso tecnológico que, no entanto é uma variável crucial. A produtividade da cana-de-açúcar por hectare em São Paulo aumentou cerca de 40% desde a década de 1970 só com base em inovações de institutos de pesquisa no Estado e do setor privado”, disse.
Para o governador, a exploração irracional da madeira e a expansão da pecuária e da soja são os verdadeiros problemas ambientais para a região amazônica – e não o etanol. “Os centros produtores de cana-de-açúcar estão a 2 mil quilômetros da Amazônia. Não vejo essa ameaça à floresta por causa do etanol”, afirmou.
O Estado de São Paulo ainda teria potencial imenso de aumento da produtividade do etanol de cana-de-açúcar, uma vez que apenas um terço da energia da planta é utilizada para a produção do biocombustível. Segundo Serra, com investimentos em pesquisa científica, como o melhoramento genético, será possível maximizar consideravelmente a produção de etanol sem aumentar a área plantada.
“O fomento e a coordenação de pesquisas científicas nessa área têm sido feitos por meio da Fapesp”, disse. O governador destacou três programas que têm contribuído para o combate ao aquecimento global: o Programa Fapesp de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), o Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e o Programa Biota-Fapesp.
“O PFPMCG, inclusive, é associado ao governo federal, que entra com metade dos recursos, sendo que o programa todo dispõe de R$ 64 milhões. O BIOEN tem parcerias com a iniciativa privada e se dedica a pesquisas que vão da fisiologia da planta à alcoolquímica. E o Biota-Fapesp, que produz estudos sobre a biodiversidade, é um dos maiores programas de pesquisa do mundo”, apontou.
Outra política ambiental do governo de São Paulo mencionada por Serra foi a Lei de Mudanças Climática. “A lei paulista prevê uma redução absoluta das emissões – isto é, não se baseia em cortes por unidade de PIB, nem em mera desaceleração. Trata-se de redução em termos absolutos. E isso não é uma tarefa fácil, até porque a energia utilizada em São Paulo é mais limpa que a de outros centros industriais”, afirmou.
“Ciência e tecnologia estão no cerne do debate mundial sobre mudanças climáticas e meio ambiente e os programas da Fapesp contribuem para que as estratégias do Brasil possam ser, sempre que o governo assim desejar, baseadas em conhecimento, como tem demosntrado o Governo de São Paulo ao promulgar recentemente resoluções e decreto baseados nos resultados obtidos pelo Biota-Fapesp”, destacou Brito Cruz.
Brasil na liderança – Serra se declarou otimista em relação ao papel brasileiro no contexto mundial de esforço pela mitigação e adaptação às mudanças climáticas, já que o país é líder no uso de matrizes energéticas renováveis, que deverão ganhar importância crescente.
“Um dos grandes cacifes do Brasil no plano internacional é a energia renovável. O que está acontecendo no mundo é uma crise do modelo de desenvolvimento da revolução industrial. Um modelo que vem do fim do século 18 e é baseado fundamentalmente na energia fóssil. Estamos assistindo uma mudança de paradigma e uma nova revolução industrial, que será baseada em tecnologias de baixo carbono”, disse.
Os países que se adiantarem na busca do novo paradigma terão uma posição de liderança no futuro, segundo o governador. E o Brasil está adiantado, já que mais da metade da frota de automóveis utiliza etanol, que tem um balanço energético muito melhor que o etanol de milho, por exemplo.
“Nossa ideia é que o Brasil deveria apresentar uma proposta, nos fóruns internacionais, que classificamos como E-10. Isto é, que o mundo adote como padrão uma mistura de 10% de etanol no tanque de gasolina. Por si só, essa medida trará um avanço enorme. E é algo factível em um horizonte de 20 anos”, disse.
Com essa proposta, segundo ele, o Brasil estaria na liderança mundial, com impacto positivo importante em termos de emprego e renda. “Alguns países desenvolvidos alegam que o etanol só é viável quando subsidiado, mas falam isso porque estão pensando em seus próprios insumos. No contexto deles, a produção de etanol consome combustíveis fósseis. Mas isso não ocorre com o nosso etanol”, disse.
Para Serra, no entanto, há duas barreiras para que o etanol tenha o alcance desejado pelos brasileiros. Uma delas é que, para ser adotado globalmente, o biocombustível precisa ser transformado em commodity.
“Isso implica padronização, estar na bolsa de valores e ter garantia de oferta. Estamos, em São Paulo, contribuindo com esse encaminhamento, mas o setor privado tem aí um papel indispensável. Também é importante destacar que não queremos monopolizar o mercado: é até importante que haja mais produtores. Só assim poderemos formar um mercado confiável”, afirmou.
A outra barreira para o etanol brasileiro, segundo Serra, é o protecionismo. Os países desenvolvidos impõem uma taxa de US$ 0,54 centavos por galão do biocombustível. Além da tarifa, países como os Estados Unidos adotam, para sua própria produção de etanol de milho, subsídios que chegam a US$ 10 bilhões. “O protecionismo é exercido com cinismo pelos Estados Unidos”, disse Serra.
Para demonstrar o excesso de protecionismo, Serra leu uma declaração recente de Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia, estado norte-americano que consome mais etanol que toda a produção do Brasil.
“Subsidiando o etanol baseado no milho e impondo tarifa de US$ 0,54 centavos por galão, o governo norte-americano tenta desestimular a importação do etanol mais importante que existe, que é o do Brasil. Isso é uma loucura. Para atingir a meta proposta de 15% de biocombustíveis na próxima década, teríamos que consumir mais que toda a colheita de milho dos Estados Unidos. Não faz sentido, é loucura e definitivamente não é do interesse dos consumidores norte-americanos”, disse Schwarzenegger, em texto lido pelo governador paulista. (Fonte: Agência Fapesp)