O alerta mais recente para os perigos da geoengenharia foi dado há menos de um mês, num estudo publicado no periódico da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
O trabalhou mostrou que lançar ferro no oceano para estimular algas que sequestram CO2 do ar pode trazer no pacote a proliferação de algas que produzem uma toxina fatal para seres marinhos.
O episódio expõe o grande paradoxo da geoengenharia: só é possível saber se ela funciona testando-a em campo em grande escala. O problema é que os efeitos colaterais potencialmente desastrosos só aparecem durante os testes, quando não se pode mais evitá-los.
A técnica de engenharia do clima mais discutida hoje, e mais eivada de efeitos colaterais, é a chamada ampliação de albedo da Terra por injeção de sulfatos na estratosfera.
Ela consiste em simular o efeito de erupções vulcânicas, que lançam milhões de toneladas de aerossóis de enxofre no ar. Essas partículas, na alta atmosfera, bloqueiam radiação solar. O resultado é um resfriamento, que pode ser considerável: a erupção do monte Pinatubo, em 1991, esfriou o planeta em 0,5 ºC por um ano.
Um estudo publicado no ano passado no periódico “Geophysical Research Letters” por Alan Robock e colegas da Universidade Rutgers, nos EUA, estimou que o equivalente a uma erupção do Pinatubo a cada 4 ou 8 anos seria necessária para frear o aquecimento global.
Isso significaria lançar de 2 milhões a 5 milhões de toneladas de enxofre por ano no ar, a um custo estimado de algumas dezenas de bilhões de dólares -uma opção cara, mas bem mais barata que o corte de emissões de CO2.
O problema, diz Robock, é que ninguém sabe se a tecnologia vai funcionar. “Você não pode fazer um teste sem que esteja de fato implementando geoengenharia. Espero que isso nunca seja necessário.”
Morrendo da cura – Ele tem boas razões para isso. Em seu estudo, o grupo do americano listou seis benefícios e 17 riscos teóricos da técnica. O mais gritante deles é que os aerossóis interferem nas monções.
A injeção permanente de sulfatos no ar poderia, portanto, provocar secas na Ásia e na África – justamente um dos efeitos mais temidos das mudanças climáticas.
Michael McCracken diz que uma forma de minimizar efeitos colaterais seria aplicar a técnica só para resolver problemas regionais. Por exemplo, lançar aerossóis de enxofre no céu do Ártico na primavera para conter o degelo no verão.
Para Robock, mesmo que a geoengenharia estratosférica dê certo, ao “mascarar” o aumento da temperatura pela queima de combustíveis fósseis ela traz um risco moral: fazer a humanidade desistir de cortar emissões de carbono.
Caso a simulação vulcânica precisasse ser interrompida, o planeta se veria mergulhado num grau de aquecimento catastrófico. Além disso, o céu do planeta nunca mais seria azul, devido à “poeira” permanente no ar.
Paul Crutzen, ganhador do Nobel de Química, reconhece esse risco num estudo de 2006. Mas contemporiza: “O pôr do sol ficaria colorido”. (Fonte: Claudio Angelo/ Folha Online)