Jornal britânico pede desculpas a cientista por “Amazongate”

O jornal britânico “The Sunday Times” teve de pedir desculpas públicas a um cientista depois de distorcer suas opiniões e publicar uma reportagem que contribuiu para pôr em dúvida a ciência da mudança climática e a integridade do IPCC, o painel do clima da ONU.

Em 31 de janeiro, o jornal publicou uma manchete segundo a qual o IPCC estava “humilhado” após a divulgação de informações falsas sobre a floresta amazônica. Segundo o “Sunday Times”, céticos questionavam o dado de que 40% da Amazônia era sensível a uma redução de precipitação com o aquecimento global. O jornal acusava o IPCC de ter retirado a informação de um relatório da ONG WWF, não de um artigo da literatura científica.

O episódio ficou conhecido como “Amazongate” e contribuiu para a perda de credibilidade do IPCC diante da opinião pública – já abalada pela publicação de uma previsão errada sobre o degelo do Himalaia, também retirada de um relatório do WWF. Pesquisas de opinião feitas nos EUA e no Reino Unido após o caso mostravam que o público estava cada vez mais descrente no aquecimento global.

Para defender a tese dos negacionistas do clima sobre “Amazongate”, o semanário britânico usou declarações de Simon Lewis, especialista em florestas tropicais da Universidade de Leeds, Reino Unido. O problema é que Lewis, longe de atacar o painel do clima, diz que o IPCC está certo em sua previsão. A fonte original do dado é um estudo do ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da Universidade da Flórida, publicado na insuspeita revista “Nature”. Desde então, vários especialistas em florestas tropicais já publicaram cartas abertas defendendo o painel.

Indignado ao ver suas opiniões distorcidas, Lewis fez uma queixa formal contra o “Sunday Times” à Comissão de Reclamações contra a Imprensa.

No dia 20 de junho, quase cinco meses depois, o “Sunday Times” publicou uma retratação. “A versão da matéria que havia sido checada com o dr. Lewis passou por uma edição posterior significativa, e não trouxe um relato preciso de suas opiniões. Nós nos desculpamos por isso”, afirmou o jornal. (Fonte: Folha.com)