A nova chefe do clima na ONU, Christiana Figueres, alertou nesta quinta-feira (2) que a série de calamidades climáticas demonstram a urgência de se chegar a um acordo revolucionário sobre o aquecimento global ainda neste ano.
Falando antes de uma rodada de conversações com 40 países sobre finanças, um tema que tem contribuído para paralisar as negociações climáticas na ONU, Figueres disse que as enchentes no Paquistão, os incêndios na Rússia e outros desastres ambientais são um chocante sinal de alerta.
“As notícias demonstram que um futuro de desastres climáticos intensos e globais não é o futuro que nós desejamos”, disse à imprensa Figueres, recém-indicada para chefiar a secretaria-executiva da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (UNFCCC, na sigla em inglês).
“A ciência irá demonstrar se e como estes eventos estão relacionados com as mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases-estufa pela humanidade, mas o ponto é claro: não temos condições de enfrentar uma escalada de desastres deste tipo”, acrescentou.
As conversações em Genebra, que se estendem até sexta-feira, reúnem mais de 40 países em nível ministerial, inclusive economias avançadas, grandes emergentes e países representativos de nações pobres.
O objetivo é estabelecer um “diálogo” nas linhas gerais de como arrecadar 100 bilhões de dólares ao ano até 2020.
As muitas questões incluem os recursos para este fundo, o papel dos setores público e privado e como o dinheiro seria administrado.
Sobre a mesa também está a questão de como implementar de forma rápida recursos de 30 bilhões de dólares nos próximos três anos.
As duas são promessas chave feitas pelos países ricos na Cúpula do Clima de Copenhague, em dezembro passado, um evento que esteve à beira da catástrofe por causa de disputas e trocas de acusações.
Hoje, a desconfiança impera, especialmente entre os países em desenvolvimento, em vista das poucas premissas sólidas acertadas no encontro na capital dinamarquesa.
“Ficaremos muito satisfeitos com o encontro (em Cancún) se ele começar a dar sinais de confiança, de um entendimento comum dos desafios…. Das questões importantes; isto seria um enorme avanço”, afirmou o negociador suíço Franz Perrez.
Os países em desenvolvimento, em particular, querem garantias de que os 30 bilhões de dólares do financiamento de curto prazo virão de novas fontes e não serão retiradas da ajuda ao desenvolvimento ou de orçamentos já existentes, explicou o conselheiro político da organização não-governamental Oxfam, Romain Benicchio.
Figueres pediu aos governos que concordem em “quatro ou cinco” grandes suportes durante as conversações climáticas da UNFCCC previstas para o fim do ano, em Cancún, e que servirão de plataforma para um pacto global sobre o clima a partir de 2012.
Uma das questões para debate em Cancún será o financiamento.
Estima-se que sejam necessários centenas de bilhões de dólares para evitar futuras emissões de gases-estufa de países emergentes, e para ajudar as nações pobres a enfrentar a intensificação dos efeitos das mudanças climáticas, como seca, cheias, tempestades e elevação do nível dos mares.
Suíça e México, que partilham a organização do evento, insistiram que as conversações em Genebra não constituem um encontro de uma elite.
Ao contrário, afirmaram, seu resultado alimentará o processo no âmbito da ONU, o único meio válido, apesar de seus muitos problemas, para se tratar da ameaça das mudanças climáticas.
O próximo fórum da Convenção-quadro, integrada por 194 países, está prevista para outubro, em Tianjin, na China, antes da Cúpula de Cancún, prevista para 29 de novembro a 10 de dezembro.
Depois do traumático resultado da COP-15, em Copenhague, as expectativas estão baixas.
Na melhor das hipóteses, afirmam especialistas, Cancún terminará com um bom avanço nas questões chave, mas o mundo precisará esperar outro ano até que esteja pronto o esboço de um tratado.
Se tudo correr bem, o acordo entrará em vigor após 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto – atual documento de compromissos da UNFCC -, estabelecendo uma nova diretriz para reduzir as emissões de gases-estufa de origem antropogênica – provocada pelo homem – e para se estabelecer o apoio financeiro necessário para cumprir este objetivo. (Fonte: G1)