Indústria é acusada de criar doença para vender remédio

Análise publicada na última edição do “British Medical Journal” acusa a indústria farmacêutica de ter financiado pesquisas para transformar falta de desejo feminino em doença. Objetivo: vender remédios.

O texto de Ray Moynihan, professor da Universidade de Newcastle, Austrália, e jornalista de saúde, diz que a Pfizer financiou cursos em hospitais dos EUA dizendo que 63% das mulheres têm alguma disfunção sexual –e que testosterona e sildenafila (componente do Viagra, medicamento produzido pelo laboratório) seriam úteis para tratar o problema.

No Brasil, em junho, a Boehringer apresentou o medicamento Flibanserina como promessa para a falta de desejo entre as mulheres. No mesmo mês, conselheiros da FDA (agência reguladora dos EUA) contestaram a eficácia do “Viagra feminino”.

Para o psiquiatra Sérgio Campanella, do Hospital das Clínicas, congressos que apostem no sucesso definitivo dos remédios só contribuem para a desinformação.

“A libido não é resolvida a contento pelas substâncias químicas que a pessoa ingere, mas pela identificação dos fatores psíquicos que estão por trás dela.”

OUTRO LADO

A Pfizer informou que “sempre se pauta em dados médicos para falar de doenças que afetam a população” e que já fez testes com Viagra para o tratamento de disfunções sexuais femininas, mas que os estudos da eficácia foram “inconclusivos”.

Já a Boehringer disse que os medicamentos pesquisados e desenvolvidos por ela “são fundamentados em estudos clínicos precisos e de acordo com protocolos exigidos pelos órgãos reguladores nacionais e internacionais”.