A Conferência de Mudança Climática de Tianjin, última rodada de negociações antes da Cúpula de Cancún, finalizou neste sábado (9) sem muitos avanços no diálogo e marcada, mais uma vez, por trocas de acusações entre nações desenvolvidas e emergentes, lideradas respectivamente pelos Estados Unidos e China.
O evento durou seis dias e reuniu 3.000 delegados de 194 países, em mais de uma centena de reuniões. Apesar do pioneirismo da conferência sobre mudança climática na China, no seio da ONU (Organização das Nações Unidas), o resultado foi apenas uma demonstração de vontade em adotar maior compromisso.
Prova dos poucos avanços conquistados foi o fato de que o discurso final diante da negociadora da ONU para Mudança Climática, a costa-riquenha Christiana Figueres, foi muito similar ao do dia da inauguração, pois ressaltou que se progrediu, ao menos, no financiamento por parte dos países ricos de programas para os países pobres.
“Fizeram-se os deveres para Cancún”, disse a representante das Nações Unidas, sublinhando que Tianjin não estava organizada para conseguir acordos, mas para determinar pontos da negociação a serem tratados na reunião mexicana.
As trocas de acusações entre EUA e China mobilizaram a reunião. Outras nações emergentes como Índia e Brasil aproveitaram o embalo para acusar de falta de transparência os EUA contra o aquecimento global, enquanto Pequim culpa Washington pelo bloqueio das negociações.
“Existe falta de compromisso na hora de informar aos demais, algo que é uma questão-chave para conseguir o acordo”, afirmou o chefe negociador dos EUA em Tianjin, Jonathan Pershing, quem afirmou que não há um equilíbrio entre o que buscam países desenvolvidos e em desenvolvimento, por isso que o diálogo está “em perigo”.
O representante chinês, Su Wei, remexeu na ferida ao assinalar que “há países que quando não fazem nada, buscam uma cabeça de turco”.
Os representantes fizeram certas concessões ao rival, e nesse sentido Pershing reconheceu a maior responsabilidade dos países desenvolvidos na luta contra a mudança climática, ao ter começado a contaminar décadas ou séculos antes.
Acrescentou que “não se deve dividir em duas caixas”, países ricos e pobres, já que há nações em vias de desenvolvimento que pelo tamanho e momento econômico podem fazer mais, aludindo à China, Índia e Brasil.
A China elogiou seus esforços ambientais, mas ressaltou que está em um momento no qual “pode escolher desenvolver energias limpas e não o carvão”, altamente poluente e que movimenta 70% da economia do gigante asiático.
O negociador chinês deu razão aos EUA em sua exigência sobre o relatório dos planos de mitigação, mas só no caso de que os países desenvolvidos financiem os projetos, não naqueles nos quais não há fundos externos.
A representante das Nações Unidas tentou minimizar o enfrentamento entre os países mais poluentes do mundo, que concentram quase 50% das emissões de dióxido de carbono.
“EUA e China confirmaram neste ano seus compromissos. Se ambos mutuamente se acusam de falta de clareza, será uma conversa que deverão ter entre eles”, sugeriu Figueres.
Entre a troca de acusações, a União Europeia quase passou despercebida, embora a delegação dos 27 negou que esteja adotando um papel secundário nas negociações.
“A UE é a única região no mundo com legislação vinculativa de redução de emissões, contemplando inclusive obrigações de longo prazo, posteriores a 2020”, destacou Jürgen Lefevre, um dos chefes da equipe negociador europeia.
Nas negociações participaram a chanceler do México, Patricia Espinosa, anfitriã da Cúpula de Cancún (de 29 de novembro a 10 de dezembro). “Confiamos em que Cancún inicie uma nova era na cooperação climática”, ressaltou a mexicana.
“Nem EUA, nem a UE, nem Japão reduziram suas ambições, e os países em desenvolvimento não escondem que terão um importante papel”, concluiu Espinosa, quem acrescentou que o México fará todos os esforços possíveis para conseguir que a reunião caribenha alcance êxito.
Em Cancún procura-se conquistar uma continuação ao Protocolo de Kioto, que finaliza em 2012.
Kioto não obrigava as nações em desenvolvimento a reduzir emissões, mas, segundo a postura de países como os EUA – que não ratificou esse protocolo – a situação uma década depois exige que as nações emergentes se envolvam mais, porque só o esforço das nações ricas não bastará para salvar o planeta. (Fonte: Folha.com)