É difícil imaginar que qualquer tipo de espécie animal consiga viver bem às margens do poluído Rio Pinheiros, em São Paulo. No entanto, isso é totalmente possível para cerca de 200 capivaras. Elas não só conseguem viver em meio à poluição como se reproduzem. E muito. A superpopulação da espécie é algo que preocupa o Pomar Urbano, antigo Projeto Pomar, que cuida do paisagismo das margens do rio e faz o controle das espécies que vivem na região. A fartura de comida e a falta de predadores naturais é o que pode explicar a proliferação.
Segundo o coordenador do Pomar Urbano, Alex Maia, quando o projeto foi criado, em 1999, o número de capivaras era bem menor. Porém, esses animais conseguiram se adaptar muito bem às condições do ambiente e, aos poucos, foram se reproduzindo. “Agora elas são praticamente domesticadas. Não se assustam tanto e já se acostumaram com o movimento das pessoas”, diz.
As capivaras apresentam um importante papel na transmissão da febre maculosa e são os principais hospedeiros da bactéria que transmite a doença. De acordo o professor Marcelo Bahia Labruna, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), elas podem não apresentar sintomas quando são picadas por carrapatos contaminados, mas a bactéria pode circular pela corrente sanguínea por até dez dias. “Após esse período, a capivara fica imune. Em lugares onde há a superpopulação é mais provável que ocorra a contaminação”, afirma.
Em 2009, em todo o estado de São Paulo foram confirmados 28 casos de contaminação por febre maculosa. Dez pessoas morreram, segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica. Os sintomas da doença são febre de moderada a alta, cefaléia e mialgia. A pessoa também precisa ter sido picada por carrapatos e ter frequentado a área de transmissão da doença nos últimos 15 dias.
Billings e Guarapiranga – Muitas capivaras que viviam às margens do Rio Pinheiros têm migrado para as represas Billings e Guarapiranga, que abastecem São Paulo. Desses locais, elas acabam seguindo para matas mais fechadas. “Não há uma barreira entre o Rio Pinheiros e essas represas, mas não há explicação para essa migração”, explica. O manejo da espécie para outros locais ainda não foi estudado, mas se o número de capivaras continuar crescendo, provavelmente essa medida terá de ser feita, segundo Maia.
O Pomar Urbano já fez a recuperação de aproximadamente 24 km das margens do Rio Pinheiros, com o plantio de mudas.
Segundo o professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Ferreira, não há nenhum fator biológico especial que explique o porquê de as capivaras conseguirem viver em um rio tão poluído e não terem problemas de saúde. “A capivara é um animal extremamente resistente. As doenças que podem afetar um humano nem sempre prejudicam um animal”, afirma.
Dócil, a capivara não é uma ameaça à segurança do homem. Quando uma pessoa chega perto, por exemplo, o que o grupo faz, normalmente, é correr em direção ao rio. Elas chegam a atravessar o Pinheiros em apenas um mergulho. As capivaras se dividem em bandos formados basicamente por um líder, que é sempre um macho. Só no Rio Pinheiros, estima-se que haja pelo menos 12 grupos. Sempre que o macho identifica uma situação de perigo, envia uma mensagem e, imediatamente, todo o grupo procura se esconder. Os filhotes se divertem e brincam durante grande parte do dia no rio. (Fonte: G1)