Os apelos do Estado insular aos países desenvolvidos foram dramáticos. “Meu país está próximo de se afogar”, recorreu Emanuel Manny Mori, presidente da Micronésia, aos representantes da União Europeia, no segundo semestre de 2009.
Seu objetivo era fazer com que a política climática ocidental fosse, decisivamente, repensada. Os países insulares como a Micronésia sofrem mais com o aquecimento global – principalmente devido à elevação do nível do mar.
O problema não se limita apenas ao medo dos moradores de que seu país, num futuro não muito distante, possa desaparecer por completo do mapa mundial. Efeitos concretos do fenômeno já podem ser observados nos dias atuais: a elevação marítima tem causado, por exemplo, a salinização dos lençóis freáticos.
Parte da água potável das reservas naturais se tornou imprópria para consumo e a irrigação nas áreas rurais está cada vez mais difícil. Com isso, a salinidade dos solos também aumentou, o que frequentemente implica anos de infertilidade. “Para a maioria dos pequenos países insulares, isso é especialmente difícil”, afirma Jürgen Kropp, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático. Ele explica que isso se dá ao fato da maior parte dessas regiões ainda depender de recursos bastante limitados de água subterrânea.
Problema não só das ilhas – Contudo, a questão não afeta apenas os arquipélagos, como a Micronésia: muitos outros países também lutam contra a salinização dos seus reservatórios de água. Entre eles, estão as regiões que detêm uma costa relativamente longa – como a Faixa de Gaza, por exemplo.
O território palestino possui uma densidade populacional particularmente elevada, o que torna a demanda por água respectivamente alta. E, assim como a elevação do nível do mar, isso consta como um fator importante no processo de salinização dos lençóis freáticos, afirma Kropp. “O mar só pode penetrar onde a água foi retirada anteriormente”.
Segundo o pesquisador, o aumento da salinidade da água subterrânea mostra que se está consumindo mais do que os reservatórios naturais são capazes de oferecer. Há basicamente duas soluções para essa situação, diz Philipp Magiera, da Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ). De acordo com ele, alternativa é aumentar a oferta de água ou então diminuir a demanda. “Eu sou um grande defensor da eficiência da água”, declara Magiera e defende que há diversos exemplos de como se reduzir o consumo de água, especialmente na agricultura.
Em várias regiões, até 70% da água subterrânea são usados na irrigação dos campos de plantação e, com sistemas econômicos – como a irrigação por gotejamento –, se poderia poupar uma quantidade imensa de água.
Desperdício dos recursos naturais – Uma parte significativa da água frequentemente é perdida no caminho para o consumidor. Diversos países lutam contra vazamentos em seus sistemas de tubulação. Nesses casos, defende Magiera, seria mais racional primeiro consertar os encanamentos furados, antes de se bombear mais água ainda no sistema. “Também no setor doméstico geralmente há formas de economizar água”, afirma ele. Um consumo reduzido poderia ser alcançado através de medidas econômicas como, por exemplo, reajustando o preço da água.
Se todas as alternativas de economia de água esgotarem, a solução que resta será aumentar a oferta de água doce. E, caso a importação não seja uma opção viável, a saída é dessalinizar a água do mar. “Do ponto de vista técnico, isso não é mais um problema hoje em dia”, garante Jürgen Kropp.
Em vários países, como Israel ou a Arábia Saudita, a dessalinização da água do mar é uma técnica já há muito usada. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, dependem quase totalmente da água proveniente do mar.
O problema, no entanto, é que as estações de dessalinização da água marítima utilizam muita energia. Energia essa que constantemente vem de combustíveis fósseis – assim como no Oriente Médio – e isso acarreta um aumento das emissões carbônicas, o que agrava ainda mais as mudanças climáticas.
Soluções tradicionais – O processo de dessalinização da água do mar é adotado também pelos países insulares, inclusive a própria Micronésia. Trata-se em sua maioria, porém, de pequenas estações com uma capacidade bastante limitada.
Sistemas maiores costumam ser caros demais para a economia do país e, além disso, faltam as reservas energéticas necessárias para abastecer estações dessa proporção. Magiera defende que, em vez das soluções de alta tecnologia, métodos mais tradicionais podem ser utilizados para auxiliar a região. Um exemplo disso seriam os sistemas de coleta de água da chuva. (Fonte: Folha.com)