Paraná prevê o pior surto de dengue

O Paraná pode sofrer o pior surto de dengue desde 1993, quando começaram os registros oficiais da doença no estado. Quem alerta é o professor doutor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do La­­boratório de Climatologia da universidade (Laboclima), Fran­cisco Mendonça. Os últimos nú­­meros da dengue no estado confirmam a preocupação. Nessa semana houve um salto de 50% no total de pacientes com a doença. Até o último dia 18, 1.383 casos foram confirmados, contra 973 no mesmo período do ano passado – uma alta de 42%. Ao todo, em 2010, foram 33 mil casos, o maior índice da doença registrado no Paraná até hoje.

Mendonça alerta que o verão privilegia a proliferação do mosquito Aedes aegypti – vetor da dengue –, mas o alto número de casos registrados ainda em fevereiro surpreende e preocupa. “O normal é que houvesse um número elevado de casos no fim de março e começo de abril, quando o clima chuvoso e com temperaturas mais amenas favorece a incidência da doença. A epidemia começou muito cedo e se fevereiro está com tantos registros, situação que já está ruim, nas próximas semanas pode se tornar muito mais grave.”

Segundo ele, o problema da epidemia no Paraná começou a se desenhar em 2010. “Até 2009, tínhamos uma interrupção na incidência da doença porque as baixas temperaturas e a falta de chuva no inverno inibiam a ação dos mosquitos. Ano passado, possivelmente porque os meses de junho a agosto foram mais quentes e chuvosos que o normal, a doença continuou a se manifestar ao longo de todo ano”, explica. Municípios pequenos se queixam da falta de verba para o combate à dengue, situação que tende a agravar a epidemia.

A permanência no inverno potencializou a incidência da doença logo nos primeiros meses do verão, como visto em cidades como Jacarezinho e Cornélio Procópio. Juntas, elas têm mais de 500 casos da doença, 1,8 mil notificações, um caso de dengue hemorrágica e três mortes suspeitas pelo tipo mais grave da doença.

Em Jacarezinho – que tem uma população de 38 mil habitantes –, as sete unidades básicas fazem mais de 300 atendimentos diários e o Pronto-Socorro da Santa Casa de Misericórdia, único hospital da cidade, se nega a atender pacientes com suspeita de dengue sob a justificativa de que priorizá-los prejudicaria o atendimento aos casos de urgência e emergência.

Para a secretária de Saúde da cidade, Andréia Kalil, faltam recursos para combater a dengue. Ela critica a postura da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (Sesa) que até agora só teria autorizado a liberação de R$ 19 mil para o combate à doença na cidade. Segundo a secretária, o município investiu R$ 70 mil nas últimas três semanas no trabalho de vigilância, limpeza de terrenos e bloqueio e seriam necessários pelo menos mais R$ 100 mil para continuar o trabalho, dinheiro já solicitado à Sesa. “Nem aquele recurso prometido chegou até agora.”

Sezifredo Paz, superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, explica que as ações de combate à dengue são de responsabilidade dos municípios, mas que a liberação dos recursos já foi realizada. “Há alguns dias, realizamos treinamento de pessoal. Agora, estamos enviando agentes e equipamentos e fizemos o repasse financeiro a 15 municípios afetados para contratação de agentes. Essa semana, repassamos a primeira parcela para esses locais, entre eles Jacarezinho, no valor de R$ 228.774”, diz.

Segundo ele, um dos problemas que refletem agora foi a estrutura de trabalho deixada pelo governo anterior. “O enfrentamento da dengue não estava planificado, então estamos agindo na medida do possível para conter esse momento difícil. A partir de abril, queremos lançar um plano permanente de cuidados contra a doença e garantir uma redução dos números em 2012.”

Limpeza – Em Uraí, no Norte do Paraná, cidade com 10,6 mil habitantes, a procura pela única unidade básica de saúde na área urbana aumentou em até 40% e o número de casos da doença passou de dois para três em uma semana, um deles de dengue hemorrágica. Por lá, o Índice de Infestação Predial – que mede a presença de focos do Aedes aegypti – saltou de 0,5 para 3,5 em uma semana, em uma escala que vai de zero a dez.

Além do combate nos locais identificados, a Secretaria de Saúde da cidade convocou todos os 24 agentes comunitários para se juntarem aos seis agentes de endemias do município que atuam no trabalho contra a dengue. “Também estamos fazendo um mutirão de limpeza de segunda à sexta-feira no centro e nos bairros da cidade”, diz.

Para o professor Mendonça, medidas como essa são positivas, mas é preciso engajamento e ações públicas mais firmes na prevenção à dengue durante todo o ano. “Mesmo que o clima fosse muito favorável, se não houvesse tantas pessoas vivendo em condições péssimas, sem saneamento básico e rodeadas por lixo e materiais que facilitam a propagação do mosquito, os casos de dengue poderiam diminuir e, quem sabe, até acabar.” (Fonte: Gazeta do Povo/PR)