A ciência brasileira pode ter derrubado mais um importante obstáculo pelo menos para os pesquisadores que são ligados à Unesp (Universidade Estadual Paulista).
A instituição criou seções técnicas para ajudar os seus cientistas no trabalho burocrático das pesquisas.
Vai ser mais ou menos assim: as 32 unidades da Unesp terão pessoal qualificado para buscar editais de apoio à pesquisa, ajudar no trâmite de importação de material e, principalmente, elaborar as penosas prestações de conta.
“Não se trata de auxiliar os docentes a fazerem os projetos. É um apoio nos assuntos burocráticos”, explica a pró-reitora de pesquisa da Unesp, Maria José Giannini.
A justificativa para a iniciativa é simples: pesquisadores não necessariamente têm formação para, por exemplo, fazer execução orçamentária. Além disso, a tarefa consome tempo de pesquisa e de ensino. “Às vezes, perco uma semana inteira só fazendo coisas burocráticas”, diz a geneticista da USP Mayana Zatz.
Esse tipo de apoio institucional na gestão da pesquisa é comum nas grandes universidades internacionais. “Sem isso, nossas universidades ficam muito menos competitivas”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo).
Qualificação – A Unesp deve despender R$ 450 mil em infraestrutura e qualificação do pessoal das seções técnicas. Os salários estão numa conta à parte, ainda não fechada. A ideia é que sejam abertos concursos.
Isso, na opinião de especialistas, criaria um entrave. O sistema de concursos e os salários baixos podem expulsar os bons profissionais para o mercado – os cientistas ou os funcionários.
“É preciso que as seções tenham pessoal qualificado. Isso significa ter salários compatíveis com os do mercado”, explica Zatz.
Mas, para Brito Cruz, as universidades têm formas de driblar o problema, por exemplo, com vantagens e plano de carreira para funcionários.
A preocupação da Fapesp com o bom funcionamento das seções técnicas se justifica: prestações de contas mal formuladas respingam na própria fundação.
Histórico – O sistema de financiamento à pesquisa instituído no Brasil, em que o próprio pesquisador recebe os recursos, e não a universidade, acaba gerando a burocracia.
“Nas agências americanas e europeias, o financiamento vai direto para a universidade”, diz Brito Cruz.
Por enquanto, a iniciativa da Unesp é pioneira pela sua amplitude. Mas outras instituições, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), já possuem unidades mais simples de apoio.
“Fico na torcida para que a iniciativa seja importada por outras universidades”, afirma o biólogo Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Assim como Zatz, da USP, Stevens já sentiu na pele o peso da burocracia quando perdeu material científico importado. Ele teve problemas para gerir toda a papelada. (Fonte: Sabine Righetti/ Folha.com)