O governo está estudando criar um instituto ou centro nacional de oceanografia para coletar informações sobre a costa brasileira. A informação é do climatologista Carlos Nobre, do MCTI (Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação).
“Estamos pensando no melhor formato, se será um centro ou instituto nacional temático nos moldes dos INCTs [Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia]. Ainda não sabemos como será, mas essa é uma das prioridades do governo”, disse Nobre nesta terça-feira durante a reunião magna da ABC (Academia Brasileira de Ciências), no Rio de Janeiro.
A novidade veio como resposta ao físico e oceanógrafo da USP Edmo Campos, que falou sobre a necessidade de pesquisas nacionais oceanográficas em um país que tem a maior costa do mundo e que planeja extrair petróleo do fundo do mar.
“Os engenheiros que estão projetando o pré-sal acham que o oceano é uma piscina sem movimento, que basta colocar uns tubos e extrairemos petróleo de camadas profundas. Mas não é assim”, disse Campos.
De acordo com o especialista, que é um dos 25 cientistas brasileiros membros do IPCC, o painel da ONU sobre o clima, faltam informações sobre o movimento do oceano na costa brasileira e sobre os impactos das mudanças climáticas nessa dinâmica. “Ter um grande instituto é a única forma de fazer pesquisa oceanográfica em escala nacional.”
“Sabemos que o Atlântico Sul está sofrendo alterações que podem se propagar aos demais oceanos. Mas não temos trabalhos de observação suficientes para compreender esse fenômeno”, disse Campos.
Já para a presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a biomédica Helena Nader, a Marinha deve investir em pesquisas nacionais sobre o mar.
A SBPC e a ABC apoiam a proposta relatada pelo deputado Fernando Jordão (PMDB-RJ) no Projeto de Lei 8.051/2010, que divide os royalties dos contratos de concessão do pré-sal entre o MCTI e a Marinha.
Navio – Edmo Campos, da USP, falou ainda sobre o Alpha Crucis, navio oceanográfico que deve chegar ao porto de Santos, em São Paulo, no próximo dia 10. O navio foi comprado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por US$ 11 milhões e tem capacidade para 20 pessoas.
Esse será o único navio nacional para pesquisas oceanográficas disponível no país. O anterior, batizado de professor Wladimir Besnard, sofreu um incêndio e foi inutilizado em 2008. “Estamos todos ansiosos pela chegada do Alpha Crucis e pelo início das pesquisas”, disse. (Fonte: Sabine Righetti/ Folha.com)