O desmatamento em áreas da Amazônia peruana cresceu seis vezes nos últimos anos, assim como o número de pequenas minas de ouro que, estimuladas pelo preço recorde do metal, surgiram na floresta, de acordo com estudo da Universidade de Duke.
O estudo, publicado na edição de terça-feira (19) do periódico científico PLoS ONE, combinou imagens de satélite dos últimos seis anos com análises econômicas do preço do ouro e documentos sobre a importação de mercúrio, concluindo que a extração do metal está entre as principais causas de desmatamento na região de Madre de Dios, no Peru.
Cerca de sete mil hectares de floresta virgem e de pântano foram transformados em duas grandes regiões mineradoras entre 2003 e 2009, o que causou um enorme crescimento no desmatamento nestes últimos três anos.
“Além destas duas áreas de mineração, há ainda muitas outras espalhadas pela região, pequenas ainda, mas que podem se expandir rapidamente”, disse Jennifer Swenson, professora de análise espacial da Universidade de Duke e autora do estudo.
A maior parte do desmatamento visível nas imagens de satélite foi provocada por minas artesanais e irregulares, onde trabalham pessoas muito pobres e marginalizadas. “São minas pequenas, não é o caso de culpar um grande Golias”, disse Jennifer. De acordo com o estudo, geralmente os mineiros carecem de tecnologia, tem conhecimento limitado dos efeitos da mineração sobre o meio ambiente ou na saúde. Raramente adotam medidas para limitar a liberação de mercúrio, um insumo usado na extração do metal precioso, no ar, solo e na água.
Minas artesanais são comuns nesta região desde o tempo do império Inca, mas o recente preço recorde do ouro no mercado internacional – que agora excede 1.400 dólares a onça – transformou a situação , de acordo com Jennifer. “A mineração é agora claramente visível do espaço”, disse.
“Nas duas áreas que estudamos, Guacamayo e Colorado-Puquiri, cerca de 2,2 mil hectares foram derrubados em apenas três anos (entre 2006 e 2009), ultrapassando e muito o desmatamento provocado pela habitação humana”, disse.
Terras desmatadas por mineração têm uma espécie de assinatura diferente, que pode ser notadas nas imagens de satélite. Isso permitiu que Jennifer e sua equipe pudessem diferenciar do desmatamento causado pela agricultura ou pela construção de estradas, por exemplo.
A maior parte do ouro extraído das minas artesanais em Madre de Dios vem de depósitos aluviais dos canais e várzeas dos afluentes do rio Amazonas. A atividade dos mineiros descaracteriza as margens dos rios e as florestas e desmata as várzeas.
O mercúrio contamina a água e o solo e atinge o sistema nervoso dos mineiros e de suas famílias, mas o risco também se estende por outras áreas, já que o metal tóxico pode dispersar-se pelo ar. Jennifer afirma que minas de pequena escala são as segundas maiores responsáveis pela poluição de mercúrio no mundo, ficando atrás apenas da queima de combustíveis fósseis.
O mercúrio das minas artesanais pode viajar por centenas de quilômetros pela atmosfera ou pela água – estabelecendo-se no sedimento e entrando na cadeia alimentar de peixes e humanos.
“Virtualmente, todo o mercúrio importado para o Peru é usado para a mineração artesanal de ouro e as importações aumentaram exponencialmente desde 2003, refletindo o aumento nos preços do ouro”, afirma Jennifer. “Com base no aumento recente, nós acreditamos que a importação de mercúrio possa dobrar até o final de 2011, e chegue a cerca de 500 toneladas por ano”.
De acordo com o estudo, a dificuldade encontrada pelo governo do Peru em fiscalizar e controlar toda a mineração artesanal dentro de suas fronteiras poderia ser minimizada caso as importações de mercúrio fossem limitadas. (Fonte: Portal iG)