O experimento parecia um tanto mórbido, mas tinha um objetivo nobre: pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, introduziram grandes predadores, o peixe achigã (Micropterus salmoides), para ver o que aconteceria em um lago. O monitoramento por três anos e sua comparação com outro lago vizinho renderam, pela primeira vez, um experimento em grande escala que comprova que mudanças radicais em um ecossistema podem ser detectadas previamente. Assim, os sinais descoberto possibilitam prevenir catástrofes ambientais.
“Por muito tempo, ecologistas pensavam que estas mudanças não poderiam ser previstas. Mas nós conseguimos mostrar que elas podem ser vistas. O alerta é claro. É um sinal forte”, disse ao iG Steve Carpenter, ecologista da Universidade de Wisconsin-Madison que liderou o estudo publicado na edição desta semana do periódico científico Science.
No início do experimento, o lago continha apenas 39 achigãs. Em 2008, foram introduzidos outros 12. Um ano depois, mais 30 peixes foram para o lago – quando houve uma grande reprodução de predadores, aumentando a população por conta própria.
Houve uma séria mudança na cadeia alimentar do lago, mudando por completo seu ecossistema. Como o número de predadores cresceu, peixes pequenos passaram a nadar mais tempo em grupos e próximos a beira do lago, para não serem devorados. O grande beneficiado foi o zooplâncton, invertebrados que vivem em águas abertas e que costumavam servir de alimento para os peixes pequenos. Eles passaram a se desenvolver livres de perigo e cresceram em tamanho.
O fitoplâncton, alimento preferido destes invertebrados, praticamente desapareceu. Em três anos, a teia alimentar daquele lago estava completamente deslocada para peixes que comiam peixes menores e invertebrados enormes.
Um sinal importante, dado mais de um ano antes da transição da cadeia alimentar, foi a variação das medições de clorofila, considerado um indicador confiável de aviso precoce da iminente mudança no lago.
“A teia alimentar do lago passou de pequenos peixes, zooplâncton e algas para uma situação com muitos peixes grandes, poucos peixes pequenos, zooplâncton enorme, e poucas algas. Esta mudança ocorreu no final de 2010, mas os avisos prévios foram detectados em 2009”, disse Carpenter.
Jonathan Cole, biogeoquímico do Instituto Cary e que também participou do estudo, explica que é provável que os sinais de mudança vistos no experimento se repitam também em outros sistemas, como o mar ou alterações por mudanças climáticas, por exemplo. “A teoria por trás deste estudo sugere que tanto a pesca exagerada quanto as mudanças climáticas podem acarretar em resultados similares, uma grande variação e muitos sinais de alerta antes de entrar em colapso”, explicou à reportagem.
O pesquisador se refere a teoria de que antes de uma grande queda, ou colapso, há uma intensa movimentação e variação em um sistema, seja na bolsa de valores, ondas cerebrais ou no meio ambiente.
De acordo com Carpenter, sinais prévios estão bem estabelecidos na teoria. “O que precisamos é de mais experimentos de campo para ver se eles funcionam na prática dentro de um confuso ecossistema real”, disse.
Os lagos Peter e Paul são dois pequenos lagos isolados no norte do Wisconsin, estado no norte dos Estados Unidos. O lago Peter, manipulado pelos pesquisadores, tem 2,5 m2. O outro lago serviu de controle do experimento. (Fonte: Maria Fernanda Ziegler/ Portal iG)