Em uma cerimônia solene, a França devolveu nesta segunda-feira (9) à Nova Zelândia uma cabeça tatuada e mumificada de um guerreiro maori, que ficou décadas exposta em um museu francês.
Autoridades da Nova Zelândia e anciãos maoris faziam há anos uma campanha pela devolução da chamada “toi moko”.
A peça estava exposta no Museu de Rouen, no norte da França, desde 1875.
Mais de 300 cabeças desse tipo foram devolvidas por vários países desde que a Nova Zelândia começou a solicitar a devolução do material.
A direção do museu diz não ter ideia de como a peça – que está coberta por tatuagens intrincadas e tem a cavidade de um dos olhos danificada – passou a integrar o acervo da instituição.
Até 1996, ela estava em exposição como parte da coleção pré-histórica do museu, disse o diretor da casa, Sebastien Minchin.
Acredita-se que a cabeça seja uma entre 15 relíquias similares em poder da França e uma entre 500 espalhadas pelo mundo.
Morte por encomenda – Na sede da prefeitura em Rouen, anciãos maoris cantaram, rezaram e fizeram rituais em honra ao homem morto.
Depois, tocaram o nariz da prefeita Valerie Fourneyron com seus narizes – uma saudação tradicional maori – antes de assinarem o acordo de devolução.
A cabeça está sendo devolvida a representantes do museu Te Papa, em Wellington.
A Nova Zelândia começou a solicitar a devolução das relíquias na década de 1980, mas a lei francesa impedia que o país devolvesse as cabeças maori.
Em 2007, a prefeitura de Rouen votou pela devolução. A decisão, no entanto, foi vetada pelo Ministério da Cultura da França, que temia que o retorno da peça criasse um precedente, levando outros países a pedir a devolução de objetos históricos.
Reflexão – A comunidade maori na Nova Zelândia festejou a decisão francesa nesta segunda.
Mas, segundo a líder maori Michelle Hippolite, em entrevista ao jornal neozelandês “Dominion Post”, o retorno das cabeças dos ancestrais maori – ao todo, nove peças serão devolvidas – também exige reflexão.
“Esta ocasião importante está repleta de alegria, mas também é um momento para reflexão sobre as jornadas desses ‘tupuna’ (ancestrais)”.
Os maoris tinham como tradição guardar as cabeças de chefes de tribos como troféus de guerra. Porém, mais tarde, as relíquias passaram a ser muito procuradas pelos exploradores ocidentais.
A procura era tanta que, acredita-se, homens foram mortos para que suas cabeças fossem vendidas. Escravos teriam sido tatuados e mortos também com esse objetivo.
Na Nova Zelândia, testes de DNA serão feitos nas cabeças para que sejam determinadas a que terras ancestrais elas pertencem. Depois, os guerreiros serão enterrados segundo a tradição maori. (Fonte: G1)