A empresa Labrits Química Ltda., responsável pelo galpão de produtos químicos que explodiu no último dia 16 na região da Vila Carioca, em São Paulo, funcionava sem licença ambiental, de acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
O órgão, responsável pela fiscalização e licenciamento de atividades geradoras de poluição, afirma que o local era uma ampliação irregular e que, pela ausência de licença ambiental, não há como saber quais produtos estavam sendo manipulados no dia do acidente. As causas só vão ser conhecidas depois da perícia.
O gerente da Labrits afirma que a empresa funcionava de forma regular. “Não sei por que a Cetesb disse que não temos licença. Nós temos todas as licenças solicitadas pela prefeitura, e já entregamos toda a documentação para a polícia científica responsável pela perícia do acidente. Também já fizemos toda a limpeza dos químicos da área e seguimos todas as recomendações da própria Cetesb”, afirma Jorge Sarabia, gerente da Labrits. “Nós atuamos nessa rua há mais de 20 anos”, diz.
Dez dias depois do fogo que atingiu três fábricas, e deixou um engenheiro químico da Labrits hospitalizado com queimaduras e outras três pessoas intoxicadas com a fumaça, a paisagem do quarteirão ainda lembrava o incêndio. Nas proximidades da Rua Almirante Lobo, todas as fábricas incendiadas estão cobertas por cinzas. Restos de borracha e madeira estão espalhados por toda a área. Um forte cheiro de borracha queimada e produtos químicos também pode ser sentido.
Temor – “Eu vivo ao lado de uma bomba”, diz Maria Socorro de Aquino, 62 anos, vizinha do galpão que explodiu. “Eu escapei por sorte. Na hora só deu tempo de correr com o meu neto de 5 anos e sair para a rua”, diz.
A moradora da Rua Almirante Lobo conta que há dias já reclamava do odor que vinha do terreno vizinho. “Era um cheiro muito forte que ardia a garganta, eu tinha que colocar uma toalha no rosto para poder sair na varanda e para estender a roupa”, conta Maria Socorro, apontando para os galpões de produtos químicos jogados no muro encostado à sua casa.
“Eu primeiro escutei dois estrondos, depois veio um cheiro forte que deixava a pessoa tonta e ouvi um grande estrondo maior. Foi quando os vizinhos começaram a gritar e saímos todos correndo”, conta.
“No dia do incêndio levamos um susto, nem sabíamos que tinha um galpão de químicos aqui do lado de casa”, diz Claudimir Amado da Silva, 49, que mora na região há 35 anos, com quatro filhos e quatro netos.
“Agora como pode ter um galpão com esses produtos perigosos funcionando aqui em uma área de casas, eu não sei”, questiona o morador. “No dia, as pessoas falaram em fazer um abaixo-assinado para a empresa sair daqui. O problema é que o tempo passa e as pessoas esquecem”.
Os moradores afirmam que a área não foi interditada. “Apenas as empresas que queimaram estão com um cordão de isolamento. A minha casa está com as paredes rachadas, mas o Corpo de Bombeiros me deixou voltar para cá no mesmo dia”, conta Maria do Socorro, a vizinha do galpão que explodiu.
Maria do Socorro diz que a Labrits já tentou comprar a sua casa antes do acidente. “Eu não quis vender porque eles ofereceram um preço muito baixo. Estava tudo em paz, mas há três anos, desde que essa empresa chegou nesse terreno, ficou difícil morar aqui”.
A Cetesb afirma que vai continuar acompanhando o caso e tomará as medidas administrativas cabíveis ao caso. O órgão diz que vai exigir da empresa que sejam “recolhidos e mantidos armazenados adequadamente, até a disposição final, os resíduos sólidos gerados no processo de rescaldo do acidente e que a destinação deverá ser feita a local adequado e aprovado previamente pela Cetesb mediante a obtenção de Certificado de Aprovação de Destinação de Resíduos Industriais”.
A Subprefeitura do Ipiranga afirmou que ainda está realizando a limpeza da região, mas não se pronunciou sobre a licença de funcionamento da empresa de componentes químicos. (Fonte: Juliana Arini/ Globo Natureza)