Em mais de 20 anos de monitoramento, o Pará sempre esteve entre os campeões do desmatamento na Amazônia. E a pecuária respondia por 90% das áreas de floresta derrubadas. Mas há dois anos, a história começou a mudar.
O Ministério Público Federal propôs um acordo aos dez maiores frigoríficos brasileiros. Eles só poderiam comprar carne de produtores que não desmatassem. Os fazendeiros deveriam ter o cadastro ambiental rural, uma espécie de ”CPF” da propriedade. E as fazendas não poderiam estar embargadas por desmatamento, trabalho escravo e grilagem de terra.
“O produtor rural, sabendo que o seu produto, a sua atividade, só sobreviverá a partir do momento em que ele atender as exigências do mercado, tem buscado uma conscientização maior”, diz o procurador da república Daniel Azeredo.
O trabalho do Ministério Público deu origem a um projeto maior. Este ano, todos os 144 municípios paraenses foram convidados a assinar um pacto para reduzir o desmatamento. A prefeitura que aderir ao programa, recebe dados de satélite que identificam em tempo real novas áreas desmatadas, facilitando a fiscalização. Nas cidades que cumprem as metas, os produtores têm licença pra vender carne e acesso a crédito. Já fazem parte do programa 89 municípios.
As fazendas cadastradas pularam de 600 (em 2009) para mais de 40 mil este ano. Por causa de seu tamanho, o Pará ainda responde sozinho por mais de metade de todo o desmatamento da Amazônia. Mas o projeto já levou a uma redução na devastação.
Segundo o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon, que faz o monitoramento da floresta por satélites, desde 2009, o desmatamento no Pará caiu 40%. Foram mil quilômetros quadrados a menos de floresta desmatada – o que equivale ao tamanho de Belém.
“O único fato que explica essa queda é o comportamento da parceria entre setor público, governo, ONGs, produtores rurais, Ministério Público, compradores, ter um comércio de utilidades, de várias matizes, inclusive uma vigiando outra, isso é importante, e isso está forçando a redução do desmatamento” diz o pesquisador do Imazon Adalberto Verissimo.
Paragominas – Um dos melhores exemplos de redução da devastação é o município de Paragominas.
“Nós chamamos a comunidade, explicamos que éramos a síntese da destruição da Amazônia, tudo o que acontecia de ruim com a natureza era Paragominas, e nós precisávamos mudar essa realidade”, relata o prefeito de Paragominas Adnan Demachki. Em três anos, as propriedades foram cadastradas e o desmatamento caiu 90%.
“A gente tem que trazer para a legalidade as propriedades e dar condição para as pessoas para poderem trabalhar dentro da legalidade”, diz o produtor Mauro Lucio Costa, que conseguiu dobrar a produtividade com apoio técnico e recursos que Paragominas está recebendo por se tornar ”um município verde”. Em contrapartida, o fazendeiro tem a obrigação de manter a floresta em pé e recuperar áreas degradadas.
Ações como a de Costa ajudaram Paragominas a sair da lista negra do Ministério do Meio Ambiente, dos municípios que mais desmatam. O município também adotou projetos de educação ambiental nas escolas que servirão de modelo para todos o estado. (Fonte: Globo Natureza)