As chuvas ininterruptas que caem sobre a América Central e que haviam deixado até esta segunda-feira 80 mortos, milhares de pessoas sob risco sanitário e enormes perdas materiais, são efeito direto das mudanças climáticas nos vulneráveis países da região, afirmaram especialistas consultados pela AFP.
Uma conjunção de fenômenos atmosféricos determinaram que em El Salvador se superasse o recorde de chuvas acumuladas (1.200 milímetros em uma semana), algo sem precedentes, nem mesmo visto na passagem do furacão Mitch em 1998, quando foram registrados 860 milímetros, o que chamou a atenção dos especialistas.
“As mudanças climáticas não são algo que virá, nós já estamos sofrendo seus efeitos, isto (a ocorrência de tempestades) é uma evidência a mais da vulnerabilidade que está nos levando a níveis incertos de exposição, com a qual nossas sociedades terão que conviver”, afirmou o técnico da Comissão Centro-americana de Ambiente e Desenvolvimento (CCAD), Raúl Artiga.
Coordenador da unidade de Mudanças Climáticas e Gestão de Risco da CCAD, com sede em San Salvador, Artiga considera que a situação atual já supera as previsões da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e de outras organizações, que previam um prazo de dez anos para o atual cenário.
Um estudo recente da Cepal, intitulado “A economia das Mudanças Climáticas”, advertiu que em termos fiscais o impacto das alterações no clima representa um passivo que “afetará as finanças públicas por várias gerações”.
Segundo o estudo, no ano de 2010, o custo acumulado estimado “equivale a US$ 73 bilhões ou US$ 52 bilhões em valores de 2002, aproximadamente 54% do PIB regional de 2008”.
Altitude – A situação atual de emergência na América Central que, segundo a meteorologista salvadorenha Lorena Soriano é causada por fenômenos atmosféricos que estão se formando a “uma altitude menor à histórica” no Pacífico, além de deixar 80 mortos até o momento, destruiu pontes, milhares de quilômetros de vias e causou perdas milionárias à agricultura de subsistência de grãos básicos.
“O que estamos evidenciando é a crescente ocorrência de eventos deste tipo (tempestades) na última década e isto nos dá um sinal de que efetivamente a variabilidade climática, associada às mudanças climáticas, é precisamente um dos elementos aos quais vamos estar sujeitos”, advertiu Artiga.
A coordenadora para a América Central da Associação Mundial para a Água (GWP, na sigla em inglês), Maureen Ballestero, advertiu que o panorama é preocupante.
Segundo Ballestero, o que acontece é uma “mistura de variabilidade climática com mudanças climáticas e isto é preocupante. Há muita influência dos efeitos das mudanças climáticas. Não podemos tapar os olhos. Estamos vivendo os efeitos na América Central”.
Para o ministro do Meio Ambiente de El Salvador, Herman Rosa Chávez, as chuvas torrenciais, causadas por fenômenos originados no Oceano Pacífico, “fazem parte de eventos extremos”, com o risco de que “a frequência com que ocorrem esteja aumentando”.
“Temos um transtorno no clima. Na década de 1960 e 1970 tivemos o impacto de um fenômeno atmosférico em cada década; depois, nos anos 1980 houve dois; na década de 1990, quatro; entre 2000 e 2010 já foram sete eventos e nesta nova década já temos o primeiro evento e a pergunta é, quantos serão?”, explicitou Rosa Chávez.
Em vista dos custos de se adaptar às mudanças climáticas, Rosa Chávez apelou ao acesso do Fundo Verde que, sob o princípio da “responsabilidade compartilhada”, é guarnecido com contribuições dos países que emitem maior quantidade de gases de efeito estufa. (Fonte: G1)