O negociador-chefe brasileiro na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, André Corrêa do Lago, disse nesta terça-feira (29), em Durban, na África do Sul, que a discussão em torno do novo Código Florestal não deve interferir na meta brasileira de redução de desmatamento. O Código está prestes a ser votado no Senado e ambientalistas veem o texto como uma ameaça à conservação das florestas.
“Acreditamos que o Código não deve tornar mais difícil de atingir nossa meta. O governo brasileiro está totalmente comprometido com reduzir o desmatamento. Isso não deve absolutamente diminuir o compromisso do Brasil de fazer cortes no desmatamento”, disse Corrêa do Lago a jornalistas brasileiros e estrangeiros presentes à conferência. Ele destacou que a discussão em torno do Código é um processo interno legítimo do Brasil e que assim é visto pelos outros países.
“Eles sabem que isso acontece num esforço de fortalecimento das instituições, de debate, de forças divergentes dentro do governo. Isso acontece em todos os outros países” observou. “Por exemplo, por que os Estados Unidos não podem ser mais ambiciosos no que eles oferecem nessa convenção? Porque no debate interno, os setores que são contrários a maior ambição na área de mudanças do clima são os que estão pressionando mais o governo, os que estão mais ativos”, disse.
Divisões – A Conferência do Clima entrou em seu segundo dia nesta terça-feira. Nas negociações, delineia-se cada vez mais uma divisão entre os países desenvolvidos e entre os em desenvolvimento.
Nos países em desenvolvimento há divergências entre os emergentes, que querem uma renovação do Protocolo de Kyoto e, ao mesmo tempo, são cautelosos devido às pressões para que também assumam compromissos de corte de gases causadores de efeito estufa, e o grupo de países insulares que correm perigo iminente devido às mudanças climáticas e, por isso, querem com urgência o estabelecimento de um fundo de ajuda, já que carecem de recursos para empreender ações de adaptação às alterações climáticas.
Com a subida do nível do mar, algumas dessas nações podem até desaparecer e, por isso, elas exigem ações imediatas e ambiciosas.
Entre os países ricos, a divergência é em relação ao Protocolo de Kyoto, único compromisso climático efetivamente assumido por boa parte das nações desenvolvidas, e que expira em 2012. A União Europeia defende uma renovação do protocolo, desde que seja associada a um acordo que passe a vigorar a partir de 2020, que inclua também os emergentes.
O Japão apoia esse plano europeu, com o detalhe de que já anunciou que não participará de um novo período sob Kyoto, ainda que pretenda manter suas políticas de redução de emissões por conta própria. A delegação de Tóquio reafirmou em Durban que não vê sentido num acordo que inclua menos de um terço das emissões, já que não contempla grandes emissores como China, Índia e Brasil.
O Canadá também não pretenderia participar do novo período do Protocolo de Kyoto. Já os Estados Unidos defendem um planejamento de prazo ainda mais longo e não opinam em relação ao protocolo, ao qual não aderiram. (Fonte: Dennis Barbosa/Globo Natureza)