Em Rondônia, um trabalho de preservação desenvolvido em parceria com o governo boliviano desperta o interesse dos moradores ribeirinhos dos dois lados da fronteira. Eles aprenderam a cuidar das tartarugas e tracajás. Milhares de filhotes foram soltos na Amazônia boliviana.
O ponto de partida é a cidade de Costa Marques, no oeste do estado. O projeto de proteção de quelônios acontece em 129 quilômetros de margens. É rica a biodiversidade na Amazônia boliviana, com aves de várias espécies e muitos animais. Famílias inteiras de capivaras aproveitam o sol. Nessa época de inverno amazônico, poucas as praias se formam porque aumenta o volume dos rios. Há na região também jacarés tinga e Açu. O mais temido predador de água doce pode passar dos seis metros de comprimento.
Seis horas depois a bordo de lanchas, chega-se a Bela Vista, distrito de Madalena, no departamento do Beni, na Bolívia. Três barcos estavam repletos de filhotes de tartarugas e tracajás. Os moradores do distrito chegam rápido para ver as visitantes ilustres. Foi uma festa na comunidade. Em duas praias foram devolvidas à natureza 20 mil tartarugas.
Por causa dos predadores naturais, como pássaros e peixes, de cada mil tartarugas e tracajás recém nascidos, apenas um sobrevive. Mas quando são soltos na água um pouco maiores, com 22 dias de vida, as chances de chegar à idade adulta aumentam em 15%.
Os representantes do projeto, que também se preocupam com o repovoamento, escolhem para soltura praias onde não se vê tartarugas. Depois de soltos, os animais voltam para as mesmas praias para desovar na idade adulta.
Entre milhares de tartarugas e tracajás, está a primeira albina encontrada em 13 anos de trabalho na região. Ela não foi analisada por nenhum especialista, mas os moradores acreditam que ela irá crescer e se desenvolver normalmente. A tartaruga albina, que ganhou o nome de Tati, não será solta no rio e terá cuidados especiais.
A cangapara é outra raridade. A espécie que está em extinção foi dizimada pelo próprio ribeirinho por causa de uma lenda. Os antigos diziam que uma mordida da cangapara era fatal. Embora não haja nenhum registro de vítima da tartaruga, eles matavam assim que encontravam a espécie.
O responsável pelo trabalho é Zeca Lula, que iniciou a ONG Ecovale. Além da tartaruga, a organização preserva outras espécies ameaçadas de extinção.
O processo de acompanhar a postura, o nascimento até a soltura é feito pelos próprios ribeirinhos do Vale do Guaporé. Só no mês passado nasceram 2,8 milhões de tartarugas e tracajás. A consciência ambiental mudou o pensamento dos moradores.
Lola, que coordena o trabalho no lado boliviano, diz que a parceria dá certo porque todos buscam a preservação das espécies. A ONG Ecovale também desenvolve projetos de preservação de gaivotas e camaleões. (Fonte: G1)